O inverno se instaurou definitivamente no Brasil na última semana, as temperaturas mostradas pelos termômetros trouxeram consigo uma epidemia de preguiça e mau humor. Chove, faz frio e o desânimo em sair de casa parece ter sido a pauta comum, tanto nas redes sociais quanto nos grupos de amigos que tenho encontrado nos últimos tempos.
Bem, já que o brasileiro parece decidido a abraçar a preguiça e o chinelo com meia, que melhor maneira de gastar os dias frios do fim de semana do que vendo documentários realmente interessantes, e ainda por cima sobre música? As três dicas a seguir foram encontradas na Netflix, mas estão disponíveis também em outros canais.
Supersonic
A primeira opção – eu confesso – é um pouco óbvia, Supersonic, o documentário do Oasis. Por que assistir um documentário inteiro sobre o começo da carreira e o auge do sucesso dos intratáveis irmãos Gallagher? Bem, porque antes de qualquer coisa, Supersonic é muito divertido. Os depoimentos de ambos, sejam sobre a fama, sobre a carreira controversa ou sobre os problemas familiares, provocam risadas com frequência.
Saídos de uma Manchester empobrecida, o comportamento, tanto de Liam quanto de Noel, sempre lembrou muito mais o dos hooligans ingleses do que de músicos profissionais. Sem qualquer coisa tipo de trava, ambos diziam o que queriam em entrevistas, para jornalistas que os abordassem na rua e assim o fizeram durante os anos em que a banda dominou o cenário britpop.
Mais do que uma biografia, Supersonic tenta dar conta de um dos últimos grandes fenômenos do rock, uma banda que arrastou multidões enlouquecidas, lotou estádios e vendeu milhares de cópias de álbuns nos tempos pré-internet. Não tenho nenhum problema em confessar que fui oasismaníaca nos anos 90 e que o documentário, muito mais do que oferecer algo para os fãs como eu, é também um lembrete de como funcionavam a indústria fonográfica e a mídia antes da popularização da banda larga. (Nota 3,5)
Janis little blue girl
A segunda dica é Janis little blue girl, documentário biográfico sobre a cantora Janis Joplin. Claro que todo mundo sabe, mais ou menos, como foi a carreira meteórica da cantora, o abuso de drogas e os relacionamentos fracassados. O que o documentário traz, no entanto, é a história da família da cantora, de como desde cedo se revelou uma jovem de mente aberta em meio a um Texas preconceituoso, além de mostrar, claro, como os traumas de adolescência e juventude impactaram na música que enfim a tornaria famosa.
Além disso, o documentário mostra de maneira aberta sua sexualidade, incluindo uma das mulheres com quem se relacionou e como sua vida foi pautada pela busca de afeto e aceitação. A escolha estética de transformar o documentário numa espécie de álbum ou scrapbook, além de prazerosa, dá um tom intimista, que é bem amarrado pela leitura em off das diversas cartas que a cantora enviava para a família, amigos e eventuais parceiros amorosos. Little blue girl é interessante e despretensioso, além de trazer filmagens sensacionais da cantora gravando em estúdio. (Nota 3,5)
The other one: the long strange trip of Bob Weir
https://www.youtube.com/watch?v=wfNewpF-j1E
A terceira e última dica talvez tenha sido meu achado favorito. The other one: the long strange trip of Bob Weir conta a história de Bob Weir, o segundo guitarrista do Grateful Dead. Com um formato muito mais tradicional, que cobre desde a infância do músico até o período posterior ao falecimento de Jerry Garcia, líder do Grateful Dead e melhor amigo de Bob, The other man é um mergulho na contracultura, que também dá conta dos 30 anos de carreira da banda.
Weir conta a história de sua vida de maneira direta, mas ao mesmo tempo amistosa, e todos os depoimentos que vão amarrando a trajetória do músico só contribuem para aumentar o clima de viagem a um tempo não tão distante porém muito interessante. Aquilo que nasce do claro inconformismo na Califórnia dos anos 60 rapidamente evolui para uma experimentação musical que foi capaz de atravessar décadas e influenciar incontáveis músicos.
Sammy Hagar, ex-vocalista do Van Halen, Lee Ranaldo, guitarrista do Sonic Youth são apenas alguns dos músicos que aparecem reafirmando a capacidade e a criatividade de Weir como um dos maiores de sua geração. Mais do que isso, muitos exaltam seu entrosamento com Garcia e o nível de interação musical que ambos chegaram a atingir.
Entre os pontos altos do documentário, estão o depoimento do próprio Weir sobre a viagem e o subsequente concerto que a banda fez no Egito, além de um fragmento recente do músico sendo acompanhado pelo The National. The other man é um deleite, quer você seja fã ou não dos anos 60.