Dentro de mim, o Wilco vive em um dia de sol. Na caminhada na manhã despretensiosa de sábado escutando “California Stars”, na volta para casa ao fim da tarde enquanto o sol se põe, naqueles momentos em que a música parece se transformar em tudo ao seu redor e encher cada canto da vista com um certo brilho. Talvez seja por relacionar tanto a música da banda a essas sensações que sorri ao ouvir os primeiros acordes de Schmilco.
Não esperava muito do décimo álbum do Wilco. Um pouco pela quase sensação de esquecimento que tive nos últimos meses em relação a Star Wars (2015) e outro tanto pelas impressões iniciais dos singles divulgados até então. Por mais surpreendente que o álbum do ano passado tenha sido, passou longe do impacto dos trabalhos do sexteto de Chicago nas décadas passadas. Digamos que o Wilco deixou seu lado revolucionário para trás, algo que não é nem um pouco desmerecedor se pensarmos que a banda foi incrível em cada detalhe e totalmente inovadora de 1996 (com Being There) até 2007 (com Sky Blue Sky).
Por falta de uma palavra melhor, vou dizer que Schmilco é o disco mais preguiçoso do Wilco até hoje. Mas preguiçoso no bom sentido.
Por falta de uma palavra melhor, vou dizer que Schmilco é o disco mais preguiçoso do Wilco até hoje. Mas preguiçoso no bom sentido, algo calmo e sem muito esforço propositalmente. O décimo disco da turma de Jeff Tweedy é uma coleção de 12 faixas tranquilas, curtas, sutis, com bem menos distorções e guitarras que o disco anterior. Nenhuma delas é calma de uma forma épica como “Jesus, etc” ou “Impossible Germany”. Aqui Tweedy canta baixinho e devagar acompanhado de harmonias leves. Às vezes soa morno até demais, como em “Common Sense”, mas às vezes funciona e cria belas canções como “Someone to Lose” e “Just Say Goodbye”.
As joias dentro de Schmilco estão escondidas, precisam que o ouvinte as procure. É como o instrumental no minuto final de “Quarters” ou a harmonia no fundo de “Shrug and Destroy”. Não é um disco feito para impressionar. Ele funciona como uma companhia simpática nos dias ensolarados em que o Wilco vive. Esconde, da forma como Tweedy sempre soube tão bem, letras introspectivas e melancólicas em canções que se vestem de uma forma alegre. “If I Ever Was a Child” é quase dançante e combina até com o desenho da capa do álbum, cortesia do ilustrador espanhol Joan Cornellà.
Dificilmente Schmilco é um disco para novos ouvintes do Wilco. Quem quer conhecer a banda hoje em dia pode, facilmente, retornar a Summerteeth (1999) ou o grandioso Yankee Hotel Foxtrot (2001). O que temos aqui é um Wilco despretensioso, na mesma linha que segue desde 2009, procurando beleza de formas mais preguiçosas. Não é uma banda que perdeu a linha ou piorou, é apenas uma banda que pisou no freio.
Nels Cline ainda é um guitarrista digno de transformar qualquer música em uma obra de arte e Jeff Tweedy ainda é um dos caras mais talentosos da música moderna. Schmilco proporciona momentos simpáticos com a banda, especialmente para os já habituados. No fim das contas, é um bom disco que dará aos brasileiros um gostinho extra no show do próximo dia 8, em São Paulo, com material novo para a banda apresentar quase que em primeira mão por aqui depois de 11 anos longe.