Alguns detalhes fazem de Bernardo Bravo um personagem ímpar na cena musical da cidade. E quando digo isso, não me refiro à sua origem carioca, mas, sim, a características inerentes à sua carreira. Radicado em Curitiba, trouxe do Rio de Janeiro um calor humano diferente do que a terra e cá está acostumada. Trouxe uma ginga e um jeito muito particular de encarar a música. Veja bem, não é juízo de valor ou comparativo com qualquer artista curitibano ou paranaense.
Múltiplo, o músico procura a cada tom e semitom criar uma obra que seja capaz de conversar com outras linguagens, amplificando as possíveis percepções oriundas de ouvir suas canções. Em outros tempos, diríamos sem exageros que é um artista que corre riscos. Corre riscos porque se jogar na Commedia dell’arte para criar uma persona em seu primeiro trabalho solo não é coisa que se vê todo dia.
O Arlequim e sua invisibilidade para transitar em meio ao povo são flertes sinceros com uma Curitiba única, que ainda tenta encontrar a forma exata de estabelecer conexões mais humanas, mais aquecedoras. E Bernardo Bravo ousou. Fez de seu Arlequim uma leitura contemporânea deste alegórico malandro brincalhão. Esse cruzamento com a popular forma teatral entregou um disco que era um mundo, ainda que fosse Bravo e um piano; era um universo, ainda que fosse intimista; era festa, ainda que houvesse uma melancolia adjacente.
No novo fluxo, Bernardo é mais caloroso, mais erótico. O cantor larga suas percepções de mundo e descobre, a partir de novos arranjos, um reino muito maior e mais propositivo.
Na fosse o bastante (e não era!), Bernardo Bravo retorna com Coyoh, um disco em que o músico não está mais só (Du Gomide, Rodrigo Chavez, Denis Mariano e Marc Olaf), um disco em que somos convidados a compor mise en scène. No novo fluxo, Bernardo é mais caloroso, mais erótico. O cantor larga suas percepções de mundo e descobre, a partir de novos arranjos, um reino muito maior e mais propositivo.
Já na homônima “Coyoh”, Bravo apresenta seu novo “eu”. Há mais espaço para experimentações, como a introdução de “5 Minutos”, um lado mais sujo e cru de Bernardo Bravo, que fica como principal marca desse novo cenário.
Da nova geração de músicos que flertam com a MPB sem soltar definitivamente o indie, Bravo talvez seja o mais antropofágico. Ele engole referências, brasis, vidas, sonhos, amores, dores, orgias e gozos para ressurgir mais autêntico que nunca, completamente arredio, o que na música é sinal de maturidade. E esse lado mais experimental do disco, um flerte com o noise é aglutinador. Logo, se você foi fã de Arlequim, sugiro um mergulho em Coyoh.
Coyoh ainda carrega consigo um prazer implícito que vem do explícito. No YouTube, Bernardo selecionou várias imagens da Shunga, a vertente erótica da tradicional e milenar técnica de xilogravura e pintura japonesa. Não é que seu disco seja um mameban (uma espécie de pocket book erótico que os japoneses costumavam carregar), mas há uma marginalidade em ambos, uma forma de diálogo sobre comportamento, cultura e vida que fica em seus subtextos.
Um trabalho sensualmente impactante e representativo.
Bernardo Bravo lança Coyoh nesta sexta-feira, dia 17, dentro do projeto Brasis no Paiol, no Teatro Paiol.
SERVIÇO | Bernardo Bravo no Brasis no Paiol
Quando: Sexta-feira, dia 17, às 20h;
Onde: Teatro do Paiol | Praça Guido Viaro, s/n;
Quanto: R$ 10 (inteira); R$ 5 (meia-entrada);
Mais informações: Evento no Facebook do show de lançamento do álbum Coyoh.