Amores vêm e vão, esta é uma certeza – eternizada inclusive pelo músico Leonardo em “Não Aprendi Dizer Adeus”. A música e a poesia buscam de forma constante inspiração neste sentimento tão ímpar, que foge a explicações mil. Em uma entrevista anos atrás, o músico João Gordo apontou como o amor, seja sua vivência ou seu fim, era determinante para o surgimento de obras significativas na música.
Amar certamente não molda caráter, mas deixa claro que até os mais ásperos são humanos. Amor e amar são atestados de vida. E foi no amor que Conde Baltazar, ator e vocalista da Trombone de Frutas, encontrou a mínima essência necessária para entregar seu primeiro trabalho solo.
Do trabalho em grupo para Lover Haus, disco lançado no último mês de dezembro, o músico deixa um pouco de lado as experimentações e busca refúgio em sua intimidade. Diferente de outros trabalhos que também enveredam pelo “eu”, Lover Haus mostra um artista nada tímido, tampouco em busca de aceitação ou de reencontro. Na realidade, todo esse calor que emana de suas onze canções apresenta um Conde Baltazar convidativo, encantador e provocativo.
A maior virtude de Conde Baltazar é, justamente, concentrar seu vigor em criar representações que se deslocam do amor clichê, do pastiche.
Sonoramente, não é apenas a ausência de experimentalismo que difere o trabalho solo do que é feito com a Trombone, há algo a mais. A linha narrativa do álbum funciona em diferentes frentes. Ainda que cada ouvinte vá significar as linhas poéticas e melódicas do registro de maneira bem distinta, as faixas se enquadram em qualquer sequência, demonstrando o equilíbrio estético e rítmico da obra.
Em Lover Haus, Conde Baltazar não está totalmente só. Entre inúmeras contribuições, como de Rodrigo Lemos, Marano, Luis Bourscheidt e Igor Amatuzzi, também entregam notas seus colegas de Trombone de Frutas: Marc Olaf, Rodrigo Chavez, João Taborda e Lauro Ribeiro.
Curitiba vive uma safra de compositores que deixam bem à mostra suas verves, exercitando a expressividade poética em linhas que buscam traduzir o cotidiano das vidas da cidade de maneira verdadeiramente autoral. A maior virtude de Conde Baltazar é, justamente, concentrar seu vigor em criar representações que se deslocam do amor clichê, do pastiche. Ao mesmo tempo, é possível se enxergar na flexibilidade desse amor que inunda a alma do cantor e transpira em suas faixas até chegar a nós.
Por mais que o amor seja tema recorrente, nem sempre falar sobre ele nos atinge em cheio. O pernambucano Otto faz isso muito bem (e há quem o chame de cafona, como se todos os apaixonados não o fossem), exalando um amor quente como sua Belo Jardim. Conde fez algo semelhante, entretanto, foi no amor geladinho de Curitiba.