Mistura de gêneros na música popular brasileira não é novidade. No caso específico do rock nacional, a sentença também é válida. Os Mutantes, Secos & Molhados, Conexão Japeri, Sepultura, Skank, Chico Science & Nação Zumbi, Raimundos, Mamonas Assassinas, O Rappa, Pavilhão Nove e Los Hermanos são alguns dos exemplos de grupos musicais que mesclaram, de alguma forma, o rock com outras vertentes do mundo da música nos últimos 50 anos.
O samba também é velho de guerra nessa miscigenação sonora que ocorre no circuito musical do Brasil. Seu Jorge, Jorge Ben, Jair Rodrigues e Elis Regina já brincaram de “misturicalizar” o ritmo. No rock, a banda paulista Huaska juntou hardcore, metal, samba e bossa nova para criar o “bossa metal”, rendendo, inclusive, a participação de Elza Soares na faixa “Samba de Preto” do disco homônimo.
Sendo assim, o que a Machete Bomb, banda curitibana que mistura samba, hardcore e rap, tem de diferente? É sempre interessante lembrar que, para ser marcante, você não precisa ter inventado a roda; bom pontuar, também, que samba não é um ritmo muito característico no sul do nosso país. Chuva, frio e samba não costumam dar liga, mas é justamente aí que o grupo imprime sua personalidade, criando uma mistura contagiante entre o cavaquinho, a distorção e a improvisação poética.
Chuva, frio e samba não costumam dar liga, mas é justamente aí que o grupo imprime sua personalidade, criando uma mistura contagiante entre o cavaquinho, a distorção e a improvisação poética.
Formada por Otávio “Madu” Madureira, Rafael Moraes, Rodrigo Spinardi, Vitor Salmazo e Rodrigo “Suspiro”, a Machete Bomb é a realização de um projeto de longa data. Madu já havia tentado fazer algo semelhante 14 anos atrás com sua antiga banda, a Zacempre. O extinto grupo, aliás, chegou a dividir o palco algumas vezes com a pernambucana Mundo Livre S/A, tendo sido o vocalista, Fred 04, o responsável por batizar o som feito pelo quinteto curitibano como “samba do sul”. Não por acaso, este foi o nome escolhido para os três EPs gravados pelos músicos de Curitiba.
Os três volumes de Samba do Sul apresentam faixas bem construídas, emprestando do samba e do rap a cadência e o lirismo para narrar o cotidiano de Curitiba. Repleto de participações especiais, como dos rappers CABES e Alienação Afrofuturista e do DJ Ploc, os EPs possuem 23 faixas, com destaque para “Carnaval no Largo” (Samba do Sul 1), “Babilônia Suja” (Samba do Sul 2) e “Pó, Pinga, Puta e Fuguete” (Samba do Sul 3).
Entre críticas, ironias, subversão e acordes, somos conduzidos pelas linhas metafóricas das músicas do grupo. Propositalmente ou não, os EPs parecem ser uma narrativa sequencial, nos desafiando a buscar, em toda sua sutileza, um pouco de nós e da Curitiba em que vivemos.
Os resultados colhidos nos últimos 2 anos têm sido muito positivos, a ponto de chamarem a atenção de Xandão, guitarrista da carioca O Rappa, que convidou a Machete Bomb para fazer parte de seu selo musical, o Caroçu, do qual o produtor Tom Saboia também é dono. Saboia tem história com a cena curitibana. O produtor musical já trabalhou com a Narciso Nada, Haullys, Supercolor, Raíssa Fayet, Diógenes, Real Coletivo Dub, Stereo 33 e Terceiro Estado. Contudo, seus trabalhos mais reconhecidos são os com a banda carioca O Rappa.
Na última semana, a Machete Bomb lançou um videoclipe para a música “Loteca” (Samba do Sul 3) – confira abaixo. É um dos primeiros trabalhos gravados no Brasil utilizando a nova tecnologia 360º disponibilizada pelo Youtube. Pode parecer pouco, mas já entraram para a história da música paranaense.