Poucos gêneros musicais tiveram tanta expressão na música ao difundir e abordar questões políticas, niilismo e críticas sociais como o punk rock. Por trás de um visual agressivo e a busca por uma estética sempre à margem dos padrões (sociais, moda, linguagem), [highlight color=”yellow”]o punk mantinha uma essência necessariamente combativa.[/highlight] Contra os excessos estilísticos de vertentes como o rock progressivo, o arcabouço do punk era constituído pela simplicidade, o resgate do que formou o rock e que seria influenciador de toda a cultura pop – e também comportamental.
Foi com satisfação que tive a oportunidade de ouvir o EP Tropical Punk, o primeiro trabalho do duo curitibano Naome Rita. Gravado n’O Beco Estúdio, em Curitiba, e masterizado por Gio Fergom, da banda Dead Sky Dawning, Tropical Punk funciona como um resgate sonoro e visual do riot grrrl, e a confirmação da verve irônica do punk e da banda, que existe desde 2013.
[box type=”note” align=”alignleft” class=”” width=”350px”]
Leia também
» Mulamba e a busca por uma nova representação da mulher na música
» Por que a The Shorts é f*da
[/box]
Movidas pela energia de uma bateria e uma guitarra, e com uma sinergia invejável, Ivy Sumini e Sisie Soares construíram oito faixas que procuram capturar com humor, riffs simples e muita ironia uma espécie de força motriz capaz de levantar questionamentos e desconstruir estereótipos. A dupla, que se conheceu despretensiosamente pela internet, trafega nas tangentes da cena curitibana, uma resistência ao desejo implícito de não-existência das mulheres na música.
Se tudo é criado de forma a ditar o que as gerações irão ouvir, com a Naome Rita as duas estabelecem uma nova erupção vulcânica social, que diz muito respeito às mulheres que se aventuram na música, mas não só a elas – e, talvez, principalmente à própria dupla. Mesmo com faixas como “Dado”, Tropical Punk não é, necessariamente, uma resposta ao machismo ou um exercício feminista – ainda que como todo posicionamento político, as intenções sejam realmente explicitadas pela escolha em se fazer algo.
Se tudo é criado de forma a ditar o que as gerações irão ouvir, com a Naome Rita as duas estabelecem uma nova erupção vulcânica social, que diz muito respeito às mulheres que se aventuram na música, mas não só a elas – e, talvez, principalmente à própria dupla.
Se a música em geral desencoraja garotas a tomarem seus instrumentos para compartilhar suas opiniões sobre o mundo, Sisie e Ivy fazem isso e funcionam, talvez até à revelia, como um enfrentamento ao status quo da arte. Elas encontram no gênero uma característica importante: o punk tem, por essência, uma desconexão estética que não as prende à escrita ou a estruturas sonoras rígidas. Por isso, Tropical Punk desliza de forma natural por referências como Bikini Kill, Bratmobile, 7 Year Bitch e L7, mas também encontra espaço para as distorções cheias de experimentalismo de um Sonic Youth, por exemplo, e joga neste caldeirão [highlight color=”yellow”]uma cartela de ironias e deboches para chegar até um som realmente único.[/highlight]
A Naome Rita oferece uma grande contribuição ao público ao fazê-lo se lembrar que há uma infinidade de músicas por aí sedentas por adentrar a cena musical, às vezes através de vertentes não-ortodoxas como o punk, e falar sobre tudo, inclusive sobre o que não se refere ao universo feminino – um quase-exílio para onde, geralmente, são guiadas, como se precisassem sempre estar restritas a temas “de mulher”. Tropical Punk é uma cacetada de riffs que, desde já, impede que Ivy e Susie fiquem ocultas na história contemporânea da música curitibana. [highlight color=”yellow”]Nada mais punk que isso, meus caros.[/highlight]