Frente a um mundo de vastas informações e conteúdos, fica difícil conciliar as palavras quantidade e tempo. Ao menos essa parece ser uma regra perpetuada através de um discurso que preza pelo senso comum, quando admitimos que saber é muito melhor do que dominar. Por isso, vivemos procurando resumos, atalhos, formas de contornar o problema ao invés de encará-lo. Absorver e compreender são verbos distintos e que em nada se cruzam, por mais que tentem nos fazer crer de forma diferente. Uma pena.
Na música, por exemplo, ao admitirmos que apenas o grosso resumirá o “vital”, que afinação é suficiente e não importa o conteúdo, rompemos com a possibilidade de criar um raciocínio coerente, compreender que ela, a música, é uma obra de arte e que em sendo, ela não vive só, isolada, como um recorte de uma realidade que não tem conexão com a vida e seus acontecimentos. Aos que assim acreditam, já deixou o exemplo o ditado espanhol “hay más tiempo que vida”, ou “há mais tempo que vida”, assim, literal, sem pegadinhas ou segundas intenções.
Para acreditar e fazer música o artista tem que, obrigatoriamente, encarar o desafio de fazer sentido. Um bom conjunto de riffs ou uma voz potente não necessariamente farão um hit, ao menos não um que seja capaz de derrotar a efemeridade, a única constante nesse mar de informações. É preciso mais, e essa foi a grande lição que o surgimento da internet e a facilidade em propagar conteúdos trouxe à humanidade, neste texto representada pelo universo musical.
O Projeto Chumbo acaba esbarrando em boa parte do que a crítica ao neo-indie brasileiro aponta.
Por sorte, nada no mundo é imutável, a não ser que permitamos que a inércia tome conta de nós. Na música, por vezes um tropeço funciona como mola propulsora, como a fagulha que nos fará compreender a lógica simples do ditado espanhol: há mais tempo que vida, amigos. E é isso que talvez precise ser melhor trabalhado pelo Projeto Chumbo, formado pelos irmãos Paulo e Flávia Plombon. A variante tempo pode ser encaixada aqui sob vários vieses: maturidade; profundidade de conteúdo; pertinência da obra; etc.
Quanto à produção, não há o que ser apontado. Gravado no Vox Dei Music e produzido pelo já onipresente Tiago Brandão, Era Isso Desde o Início é irretocável enquanto forma, mas falho em sua efemeridade lírica e musical. O Projeto Chumbo acaba esbarrando em boa parte do que a crítica ao neo-indie brasileiro aponta: o não-estado das coisas; o distanciamento irônico da realidade; uma pretensa busca por ser irrelevante.
Inegável que essa opção estética encontra um público fiel, principalmente quando é significada como algo “fofo”, já que certas nuances ficam mais claras à crítica do que ao ouvinte. Há de salientar que não tenho intenção alguma de entrar no mérito de juízo de valor, mas precisamos repensar o posicionamento existencial que parece entorpecer o mercado da música de algo que procura mais soar ao agrado do que transmitir uma mensagem. O Projeto Chumbo pode mais, mas precisa fazer mais, aprender e se esforçar mais. “Há mais tempo que vida”, já dizia o poeta.