Existe no trabalho de Rosie Mankato uma identidade tão sua que é difícil mesmo traduzi-la ao papel. A originalidade de sua obra emerge da personalidade que a artista empresta a ela, que se cruza quase instantaneamente com a voz autoral que busca imprimir em um gênero tão requentado quanto o folk – e que vem sendo, sistematicamente, cozido pelo mimetismo de uma gigantesca safra de artistas pouco inventivos.
A partir desta maneira tão peculiar de elaborar suas composições – e de gestar um disco por longos 5 anos –, Rosie talha cada faixa ao modo artesanal, deixando escondidas nas entrelinhas delas elementos que por vezes não são tão visíveis (ou audíveis) a quem não deposita sensibilidade na audição de suas canções.
Palomino chegou ao público carregado de expectativa, divida entre fãs, crítica especializada e artista. E podemos apontar que a rusticidade do folk melancólico de Rosie Mankato é o que parece desarmar esse monstro chamado ansiedade. Nas seis faixas do EP, a voz da cantora atua como um vórtice, que suga o ouvinte para dentro da intimidade da artista. Nada é óbvio no registro, porque Rosie se nega a trilhar esse caminho, como exemplifica “Boat”, faixa já conhecida há um bom tempo do público. Em Palomino, ela retorna repaginada, revisitada. É outra canção, ainda que seja a mesma. A lógica também vale para a cantora, que faz o que se espera dela e, ainda assim, entrega algo que vai além.
Obra e artista se cruzam e se confundem seguidamente no que Rosie faz. Palomino é fruto do refúgio da cantora, O Colina Studios. Concomitantemente, o estúdio é parte fundamental do que o disco viria a ser.
Obra e artista se cruzam e se confundem seguidamente no que Rosie faz. Palomino é fruto do refúgio da cantora, O Colina Studios. Concomitantemente, o estúdio é parte fundamental do que o disco viria a ser. E neste pertencimento mútuo reside a força propulsora do trabalho, que ganha contornos essencialmente pessoais – o que exige a entrega do próprio ouvinte neste processo de significação musical, como uma estratégia fundamental na assimilação do universo que, naquele instante, parece existir apenas nas composições da cantora.
De certo, influências e sonoridades pululam na mente quando se ouve as seis faixas do enxuto disco. Contudo, há muita virtude em que isso não se construa como princípio da obra e, sim, como resultado de experimentações a despeito dos limites de sua própria musicalidade. Rosie exercita a expansão de sua compreensão sonora e estética, traça paralelos e meridianos como quem rabisca um caderno de rascunhos, brincando com as possibilidades infinitas que a arte que escolheu para vida lhe proporciona.
Palomino reafirma o senso de liberdade (estética, artística) que Rosie Mankato vem buscando desde a extinta Rosie and Me. Concomitantemente, (re)apresenta uma cantora que mergulhou tanto em si que estará diante de uma nova missão: compreender de que forma suas canções ecoam no outro e como ela sairá transformada desta situação. Resta, agora, a catarse do encontro com o disco e a cantora nos shows de lançamento do registro. A certeza é que será íntimo e imperdível.