Existe todo um universo de temas dentro do emo, bem diferente do que pensa o senso comum. Ainda que as obras do período de ápice do gênero sejam bem características, e que as ouvir hoje seja reavivar um universo nostálgico instantaneamente em nossa mente, é possível conferir as diferentes nuances que marcam os grupos e seus álbuns. Hide Your Feelings, dos curitibanos da The Ex Files, trafega justamente nesta avenida da memória.
Com um registro mais complexo que seu anterior, Letters, o novo EP parece ser ponto de convergência criativa para a banda, mais lapidada e cirúrgica na construção de cada uma das seis faixas que compõem o trabalho. Transparece uma maior tentativa de unificar sonoridades distintas e brincar com elementos múltiplos.
Com um registro mais complexo que seu anterior, Letters, o novo EP parece ser ponto de convergência criativa para a banda.
Dá para dizer que a The Ex Files reverencia veteranos como American Footbal, por exemplo, mas não ficam somente preocupados em evocar essas influências. Há, escondido nas composições, um elemento muito importante: a ponte criada com o passado é estratégia para definição de uma identidade que tenta pensar o futuro, costurando experiências, romantismo, frustração, conflitos e confissões.
Essa identidade é muito mais rebuscada, partindo quase como uma tentativa de criar uma força hipnótica, magnética, indicando que a The Ex Files deseja mostrar através de sua ainda curta trajetória que é possível assumir caminhos não tão óbvios ao emo, gênero ainda prejudicado por sua excessiva comercialização no início dos anos 2000.
Ingredientes mais expansivos ganham corpo em Hide Your Feelings, agregando doses de agressividade e pitadas de rusticidade, tanto nos arranjos quanto nas distorções. Ainda que dificílimo atingir um patamar de zero erro, é notório como os curitibanos trabalharam para amarrar todas as pontas do EP, reduzindo ao máximo um cenário de turbulência estética e musical.
No fim, a principal qualidade de Hide Your Feelings é distanciar-se de uma abordagem torta sobre o romantismo (ou sobre as desilusões amorosas originadas neste romance), mantendo um certo distanciamento de estereótipos comumente atribuídos às bandas emo. Se não chega a ser um registro tão intenso quanto bandas como o Brand New tem entregado, ao menos prova que um gênero se mantém relevante conforme sua capacidade (e interesse) de repensar a si. E, nesta roda da música, a premissa também vale para os artistas.
Por sorte, o quarteto parece ter esta consciência, o que certamente torna isso um alento. Para eles, é claro, mas penso que principalmente para o público.