“Fase Rosa” é conhecido como um período na carreira do pintor espanhol Pablo Picasso, entre 1904 e 1906, no qual a tristeza e os tons frios da “Fase Azul”, vivida nos anos anteriores, ficam para trás e dão lugar a temáticas mais alegres e otimistas. O artista passa a usar em seus quadros os tons rosa e vermelho, inspirado pelo relacionamento amoroso que vivia na época e também por artistas de circo, principalmente. Foi nesse período vivenciado pelo pintor – e também nessa transição – que a banda mineira A Fase Rosa buscou inspiração, não apenas para o nome do grupo, mas, principalmente, para as suas criações, que cantam a diversidade da cultura popular brasileira ao mesmo tempo em que a concede novos tons.
A banda foi formada em 2009 e já possui quatro registros: os EPs O Arquiteto e o Carnaval (2011) e 2 (2012), e os álbuns Homens Lentos (2013) e Leveza (2014). Homens Lentos, primeiro registro cheio, reúne canções dos trabalhos anteriores e expõe uma parte do universo exuberante que a banda constrói com sua música. São doze faixas que se destacam pelos arranjos e pela instrumentação, que levantam o disco nos momentos certos, lhe dando vibração e potência. “Lourdes e Leblon”, canção que abre o disco, nos remete ao clima carnavalesco do Rio de Janeiro e já sinaliza o espaço que as manifestações populares têm no repertório do grupo.
Quando o assunto são as letras, toda essa expressividade anda junto com um certo olhar introspectivo e reflexivo, aqui e ali, sobre a realidade e sobre o próprio eu, como quem descobre sua relação com o mundo entendendo um pouco de si. “Não faz mal, sonhar incauto assim/ É o que apraz e faz inevitável ser leve e levantar do chão”, cantam em “Levantado”. Ainda assim, não se trata de um disco melancólico ou algo semelhante.
Em Leveza, o quarteto registra ainda mais a vitalidade inerente a muitas manifestações populares do país.
Vale ressaltar, também, que, tal qual o nome da banda, o título do álbum também faz referência a uma personalidade. Desta vez, ao geógrafo Milton Santos, que definiu “homem lento” como aquele que resiste às influências da velocidade e da fragmentação impostas pela modernidade. Uma excelente representação dos pensamentos trazidos no disco.
Se no primeiro álbum a energia que brota das descobertas se faz presente, em Leveza, trabalho seguinte, a ideia ganhou muito mais força. Em doze novas composições, o quarteto registra ainda mais a vitalidade inerente a muitas manifestações populares do país. São músicas que versam sobre samba, funk, que falam de São Paulo, Belo Horizonte e da Paraíba no ritmo do baião, axé e rock. “A ética derrete ao calor do verão/ Cenário de novela/ O samba resiste à higienização/ Pacificada, lavada é um amor/Cenário de novela/O funk revela mais que ostentação”, cantam sobre as favelas cariocas em “Guanabara”. Neste trabalho, é quase como o movimento de alguém que se alegra e se descobre ao olhar para fora de si e, assim, se torna leve, como todo o disco.
Após os lançamentos, em 2016, a banda fez uma pausa nas suas atividades. Em entrevista ao jornal O Tempo, o quarteto atribui a parada à perda da vitalidade, uma das marcas do trabalho da banda. “A gente deu esse intervalo por questão de tempo de estrada. A gente investiu muito, rodou bastante por vários lugares do Brasil na raça, e isso, invariavelmente, puxou a energia das pessoas envolvidas”, contou o vocalista Thales Silva.
Agora, passados dois anos, a busca por aquilo que trazem no nome, somado ao amadurecimento dos músicos, os trouxe de volta aos palcos. “Sobre o momento de ser agora, acho que é porque deu tempo de todo mundo amadurecer os outros trabalhos, recarregar as energias e convergiu de todo mundo estar sintonizado de novo, entendendo a importância da banda, cada um de um modo mais maduro e harmônico”, contou o vocalista.
Com a “revinda” oficial do grupo, que aconteceu oficialmente no último mês de abril, fica a expectativa por novos trabalhos. E enquanto eles não saem, vale a pena ir acompanhando com mais atenção a banda, que vem usando sua música para pintar a MPB de várias cores.
NO RADAR | A Fase Rosa
Onde: Belo Horizonte, Minas Gerais;
Quando: 2009;
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