Ty Segall não tem sequer 30 anos de idade e já acumulou uma discografia digna de artistas de longa estrada. Sua carreira foi estabelecida fazendo uma fusão de garage rock e lo-fi em inúmeras bandas da cena underground de Orange County, até partir para carreira solo em 2008. Sua juventude influencia certamente em sua proficuidade, mas também gera questionamentos: afinal, quantidade pode caminhar lado a lado com a qualidade?
Em Ty Segall, seu segundo disco homônimo (o outro é de 2008) e o nono da carreira, ele combina todas as influências a que foi submetido desde que se entende por gente em um álbum coeso. Ele retomou a parceria com a banda de apoio The Muggers, dando maior espaço para eles no processo de gravação, algo diferente para o artista, acostumado com a vida solo.
Essa parceria combinada com a agitação criativa de Segall e sua habilidade de criar riffs alucinados fazem dele uma das mais interessantes figuras da cena independente na Califórnia. Trabalhar como um músico independente acrescenta camadas de liberdade criativa a ele, permitindo com que reinvente sua personalidade artística, ainda que desvie muito pouco de uma postura meio punk, a cada novo lançamento.
Ty Segall resgata o lado mais abrasivo de Emotional Mugger, álbum lançado em 2016. As canções dão a clara impressão de que Segall é a principal força motriz por trás de cada faixa, mas é bem transparente como o The Muggers aumenta a complexidade musical do disco – basta compará-lo a Manipulator (2014), por exemplo.
Mas mesmo com toda crueza que se esforça em entregar, são suas apresentações ao vivo que escancaram a energia presente em sua guitarra – uma rápida procura no YouTube e o leitor encontrará alguns vídeos dele tocando canções do novo disco.
Mas mesmo com toda crueza que se esforça em entregar, são suas apresentações ao vivo que escancaram a energia presente em sua guitarra.
O álbum abre com a pancada “Break a Guitar” e seu riff no melhor estilo Black Crowes. Entretanto, é daí em diante que o guitarrista toma de assalto nossos tímpanos com uma psicodelia embebida em distorção, caminhando entre uma sonoridade setentista sem caminhar necessariamente a um som nostálgico.
“Warm Hands” é o épico de Segall, uma faixa de mais de 10 minutos em que o músico flutua pelo Black Sabbath, pela fase psicodélica dos Beatles e mesmo uma viagem em Syd Barrett. Essa união de estilos diferentes é feita de maneira brilhante, sem cacofonias ou histrionismo, apenas um vocal perturbado e solos de uma guitarra cheia de distorção. É quase como se ele o o The Muggers estivessem fazendo uma jam session em pleno disco.
Em “Talkin”, ele revisita Grateful Dead, encaixando notas inspiradas no country. Mas Ty Segall não está satisfeito. Ele tem prazer em jogar com o ouvinte. Por isso, retoma seus riffs repletos de texturas e distorção em “The Only One”, “Thank You Mr. K.” e “Take Care (To Comb Your Hair)”. Ao ouvir a discografia você se acostuma com este jogo de cena do músico. Não obstante, ele é capaz de fazer com que fiquemos impressionados com suas mudanças drásticas de estilo.
Há quem aponte Ty Segall como um músico de nicho. Há quem veja um excesso de virtuose em seus riffs. Há quem só ouça barulho. Há quem o considere um novo gênio, até incompreendido. A verdade é que existe um Ty Segall para cada um, você só precisa escolher qual deles você quer. O certo é que impassível pelo músico ninguém passa.
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