Existe uma certa transcendentalidade na música, que rompe com convenções e padrões, interligando mente, corpo e alma. Nem sempre artistas conseguem chegar até esse ponto em sua primeira tacada, seja pela artificialidade ou pela efemeridade – afinal, a música também é o bilhete da loteria para alguns, muito mais do que uma expressão de arte.
Para fugir do clichê da “música sincera”, acredito que o duo campineiro S.E.T.I, formado por Roberta Artiolli e Bruno Romani, faz música. Ponto. Mergulhados em camadas referenciais tipicamente oitentistas, como o synthpop, o pós-punk e o trip hop, a dupla gravou seu primeiro trabalho no ano passado, o cirúrgico Êxtase. O grupo surgiu em meados de 2012 e buscou inspiração no SETI Institute, instituto que promove pesquisas sobre vida fora da Terra, para batizar a banda.
Há uma exigência corporal na sonoridade do S.E.T.I., talvez resultado das misturas das batidas eletrônicas com melodias psicodélicas e harmonias sutilmente fluídas. “Arte da Guerra” e “Sinta-se/Perca-se” são a introdução nesse mergulho introspectivo. A dupla leva o público para uma viagem interna, uma apresentação do mais íntimo de um músico, em um desnudar lírico belo, ainda que por vezes um tanto doloroso.
Para fugir do clichê da ‘música sincera’, acredito que o duo campineiro S.E.T.I, formado por Roberta Artiolli e Bruno Romani, faz música. Ponto.
“Benjamin” – além de uma homenagem ao músico Benjamin Curtis, falecido em 2013, músico da novaiorquina School of Seven Bells -, é um destrinchar metafórico sobre o “eu”, sobre o que nos contrói enquanto seres humanos, a partir do que nos motiva. “Extra Estelar” segue ritmo semelhante, para depois te jogar em batidas frenéticas. Nesse ponto, Êxtase recorda bastante Eyelid Movies, disco de 2009 do duo norte-americano Phantogram. “Futuristic Casket” se encaixaria perfeitamente no EP da S.E.T.I. e vice-versa.
Aliás, o S.E.T.I. acaba sendo uma viagem muito mais pela cena norte-americana (Poliça, Phantogram) do que no trip hop britânico (Massive Attack, CHVRCHES), ainda que haja sutilezas dos grupos ingleses e escoceses, que se guiam mais pelo indie do que pela techno music. Chama a atenção, também, o duo cantar em português, o que facilita a assimilação das canções, além de gerar maior empatia com sua musicalidade.
Êxtase encerra num jogo que evoca a dualidade humana. Enquanto “Dias Mudos” retorna ao lado mais soturno da banda, “Gravidade Zero” é expansiva e convidativa. A única ressalva no disco fica com a linha vocal de Roberta, excessivamente baixa ao longo das 6 faixas do EP. Como a cantora é afinada e sua voz, apesar de delicada, é potente, ela poderia ter sido melhor trabalhada. Entretanto, nada que prejudique o conjunto da obra, um grande trabalho, que cria expectativas pelo futuro do duo.