Nostalgia. Essa foi a palavra que definiu o hype de minha mãe e minha tia, ambas crescidas durante os anos 70 e 80, quando a Globo anunciou a criação do Viva. Imagina depois de todos esses anos elas poderem se reunir no sofá e rever as novelas e programas que faziam sucesso durante os anos mais felizes de sua vida naquilo que meus primos e eu batizamos carinhosamente de Servidor ou Backup do Projac.
Pois foi essa semana que ficamos sabendo da notícia que nos deixaria em tons completamente saudosistas. A MTV Americana, depois de declarada morta, resolveu relançar um canal dedicado às memórias dos anos 90.
Aquele sentimento de euforia de minha mãe e de minha tia logo foi compreendido por nós, meras crianças de camisa xadrez de flanela trocando socos ouvindo Nirvana.
O que antes era o VH1 Classic se tornou o MTV Classic e trouxe em sua programação os clássicos da emissora como Beavis & Butthead, Aeon Flux e principalmente os clipes e os acústicos da década. Nesse tempo, depois de falarmos sobre os 60, os 70 e os 80, revividos numa hype gigante com Stranger Things, os anos 90 finalmente parecem ser a “última escola” revisitada das décadas passadas.
Entre os acústicos que se destacam na história da MTV, os da cena grunge acabam sendo o carro chefe para muita gente. Nirvana, Pearl Jam, Stone Temple Pilots e Alice in Chains entraram para o rol de lendas com performances relembradas até hoje, com cenários icônicos e grandes hits tocando apenas com violões e baterias acústicas. E dentro dessa escola de hits que uniam peso e melancolia, chega a ser injusto não celebrar os clichês de videoclipes que todos nós amávamos.
Foi na época de sucessão ao grunge que algumas bandas surgiram adotando uma levada mais pop para o gênero. Isso aconteceu com o punk, com o rock psicodélico e até mesmo com o experimental.
Mas com o grunge se iniciou uma corrente de bandas que não ficaram conhecidas como grunge pop ou nada do tipo, e sim como os 90s, que recheavam as tardes em músicas bem semelhantes, mas que tinham como grande atrativo o investimento em videoclipes bem produzidos.
Entre essas bandas do post-grunge que uniam a estética do estilo com apelos mais comerciais, tinhamos Fuel, Staind, Puddle of Mud e até mesmo a divisora de opiniões Creed, que muitas vezes se pareciam com vocais bons, mas idênticos e levadas sempre praticadas da mesma forma.
Hits como “Shimmer”, “With Arms Wide Open” e “So Far Away” serviram de base para a programação e a presença massiva do rock “pesado” na TV. Aquele gênero crescia brigando de igual pra igual com as boybands e as bandas de hardcore, deixando nos anos 90 um misto de rebeldia com fórmulas clichês, mas que eram adoradas nas rádios, nas TVs e principalmente nos pôsters na parede dos quartos.
Entre os acústicos que se destacam na história da MTV, os da cena grunge acabam sendo o carro chefe para muita gente.
A verdade é que diferente das demais décadas, os anos 90 são os mais difíceis de se reviver. Não porque suas bandas e escolas eram difíceis e únicas, mas porque suas identidades parecem pertencer apenas aquele momento que sentenciou o fim do século analógico para o começo do século digital.
É difícil acreditar hoje numa nova corrente do grunge, como tem acontecido com o renascimento das bandas punk, assim como é bem difícil crer na possibilidade de hits comerciais que vendiam a rebeldia das bandas de garagem.
MTV Classic vai trazer de volta, por enquanto apenas nos EUA, a sensação de sentar no sofá velho com uma camiseta xadrez e balançando a cabeça ao som das bandas que muita gente hoje em dia gosta. Mas assim como o VIVA, deixa bem claro que sentir saudades é melhor do que tentar recriar aquilo que hoje não teria contexto.
Fora isso, reviver cada clichê das paradas é uma sensação nostálgica muito boa, ainda mais pra quem cresceu no meio de toda aquela salada de cores e visuais estranhos.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.