Fãs de uma das bandas mais delicadas dos anos 1980, preparai vossos bolsos. Acaba de ser lançada lá fora, pela Polydor, a caixa Lloyd Cole and the Commotions – Collected Recordings (1983-1989). Cinco CDs, 66 faixas (incluindo os álbuns oficiais, B-Sides, demos e raridades) e seu mundo está completo.
Lloyd Cole and the Commotions teve vida curta. Três discos. O suficiente para deixar uma marca em muita gente que acreditava que era possível sobreviver às paixões do coração. “Eu acredito no amor, em alguma coisa”, dizia Lloyd em um verso de “Forest Fire”, de Rattlesnakes, primeiro álbum da banda, lançado em 1984. Um alento.
A banda era uma espécie de antídoto, um chá de camomila que nos desviava da fúria do punk, da sobriedade do pós-punk. Conheci até gente de moicano que admitia gostar dos garotos. Era pop, suave, divertido, inteligente. Foi assim que dobraram a imprensa britânica da época e aqueles que viam com certa antipatia os “estudantes-cabeça”. Lloyd Cole estudava filosofia e inglês na Universidade de Glasgow.
Com suas blusas de gola rolê, Lloyd tinha tudo para ser um rockstar. E até foi um pouco. Como ele e os The Commotions chegaram à cena do Reino Unido depois que a onda do pós-punk já estava mais branda, Lloyd conseguiu um lugarzinho no trono. Mas sempre tive a impressão de que ele não fazia muita questão de ocupar nenhum posto. Preferia ser reconhecido como alguém que tinha boas inspirações. E como tinha. Escancarava-as nas próprias letras.
Estão lá Leonard Cohen, em “Speed Boat”, Norman Mailer em “Are you ready to be heartbroken?”, Jesus em “Brand New Friend”. Canções com personagens que ele criava enquanto acompanhava os pais que trabalhavam em um campo de golfe, hobby que ele pratica até hoje. Veja aqui o diário de bordo que Lloyd escreveu em 2009 sobre suas andanças nos campos de golfe da Austrália. Rendeu até prêmio.
A banda era uma espécie de antídoto, um chá de camomila que nos desviava da fúria do punk, da sobriedade do Pós-Punk.
Voltando à caixa. Quem se dispuser a pagar cerca de 35 libras (algo em torno de 200 reais) vai relembrar o quanto Lloyd Cole and the Commotions foi essencial, e assim o bolso irá doer menos. Os três primeiros CDs da caixa representam os três discos lançados pela banda – Rattlesnakes (1984), Easy Peaces (1985) e Mainstream (1987). Os dois CDs restantes são a cereja do bolo – B-Sides, demos, tapes, raridades.
Fazem parte das raridades da caixa faixas que nasceram entre o intervalo de Easy Peaces e Mainstream, este último um álbum já meio sem fôlego. Mainstream pode não ser a melhor obra da banda, mas é nele que estão as essenciais “Jennifer Said” e “Hey Rusty” (presentes no disco 5, em versões demo). “Hey Rusty” é uma síntese das minhas sensações, uma das razões que talvez ainda me faça rabiscar pensamentos. Porque “we’re still young i just need one friend/ and we’re not finished yet”.
Entre tantas faixas que chamam a atenção, há “Poons” (tocada somente uma vez ao vivo). É enérgica e tem uma bateria que domina. “Old wants never gets”, música que deveria ter sido tocada nas pistas dos anos 80. Pura ginga, com aquela letra que gruda na cabeça. E “Brand New Friend”, em versão mais arrastada. Interessante ouvir de outra forma, mas mil vezes a versão original.
Ao contrário de muitas bandas que chegaram ao fim por não suportarem mais dividir palcos, camarins e mulheres, ao que parece, Lloyd e os amigos nunca tiveram intrigas das mais pesadas. A banda decidiu parar alegando que não tinha grandes ideias para um quarto álbum. Honesto. Em 2004 fizeram uma “tour revival” e depois cada um seguiu sua própria trilha.
Exceto pelas horrendas meias brancas que usavam (não só eles, mas todos os rapazes das bandas da época!), tudo em Lloyd Cole and the Commotions foi essencial. Uma grande influência para outros músicos que, a partir década de 90, começaram a perseguir com mais afinco o tal do pop perfeito.
Se você ainda não se animou, faço mais uma tentativa. Além dos cinco CDs, há um DVD com todos os clipes, apresentações na televisão, ao vivo e também um livro com 48 páginas.
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