O Delírio do Verbo, peça idealizada e interpretada pelo ator Jonas Bloch, esteve em curta temporada na Caixa Cultural de Curitiba. Baseado nas obras do poeta Manoel de Barros, o espetáculo ficou em cartaz de 05 a 8 de julho, e contou com uma sessão extra no último domingo (8).
Com uma narrativa irônica, poética, delicada e bem humorada, o espetáculo foi elaborado pelo próprio ator. A supervisão cênica é de Emílio de Mello e a cenografia também é assinada por Jonas. O Delírio do Verbo já percorreu inúmeras feiras literárias e já cumpriu temporadas em várias cidades pelo país.
Com mais de 50 anos de carreira em teatro, cinema e televisão, o ator Jonas Bloch relata no programa do espetáculo que conhecer a poesia do autor é “viajar numa experiência nova. Poesia sem rima, instigante, às vezes engraçada ou romântica, surrealista, sempre provocativa”. O ator, que leu todas as obras de Manoel de Barros para compor o espetáculo, procurou reunir os textos que tivessem uma abertura maior para a narrativa teatral.
A imagem do palco e todos os objetos cênicos que compõem a peça são vistos logo que o público entra no teatro. Inúmeros objetos colados em pedaços de pano são amarrados no teto. Em conjunto com esses objetos cênicos, a composição de elementos no palco é completada por alguns penduricalhos, algumas cadeiras, uma escada e uma caixa. De pés descalços, Bloch entra em cena e revela um espetáculo solo marcado pela simplicidade de Manoel de Barros. A dramaturgia apresenta algumas faces da vida, cotidiano e trajetória do escritor através de seus textos.
Jonas Bloch, que também é formado em Artes Plásticas, relatou que, para a montagem e cenografia do espetáculo, teve como inspiração o artista Arthur Bispo do Rosário, que, no ponto de vista do ator, tem uma sintonia expressiva com a de Manoel de Barros.
Com atuação em vários veículos e tendo uma trajetória marcada por transições em diversos espaços no cenário da dramaturgia brasileira, Jonas relatou que O Delírio do Verbo marca um trabalho poético e de identificação pessoal.
“Ele pegava as coisas consideradas ‘insignificantes’, desprezadas, aquelas que eram jogadas fora e transformava isso em beleza, e eu fui buscar algumas coisas desse gênero e fiz uma montagem artesanal de objetos que remetem um pouco ao universo do Manoel de Barros, então tem o berrante, as cabaças – que remetem ao universo do interior, que ele fala muito também. Busquei fazer um cenário que é maleável; então, conforme o teatro, ele pode ser adaptado – ele é todo feito com bambus”, contou Jonas.
Com atuação em vários veículos e tendo uma trajetória marcada por transições em diversos espaços no cenário da dramaturgia brasileira, Jonas relatou que O Delírio do Verbo marca um trabalho poético e de identificação pessoal. “É um trabalho que não é orientado pelo fator comercial, você fazer monólogo de poesia em época de crise é tudo que uma produção não faz. Mas aconteceu que, no meu ponto de vista, esse trabalho era um resgate. Era uma reconexão com o meu lado artístico. Eu vinha fazendo muito tempo de televisão e, quando eu montei esse espetáculo, eu estava fazendo uma novela que não gostava, e que fiquei infeliz de fazer, aí resolvi abrir mão do meu contrato e começar fazer um trabalho que me colocasse de volta ao que considero mais fundamental na arte”.
A parir da leitura completa da obra de Manoel de Barros, Jonas conta que se identificou com ela e, a partir de então, começou a adaptá-la para uma produção teatral. “O Manoel de Barros tinha tudo a ver comigo, com o sentimento que ele passa. Foi uma identidade muito grande, e uma vontade de compartilhar com todo mundo, com o publico, e aí comecei a produzir e preparar. Li a obra dele toda e recolhi um trecho de cada fase da obra dele, às vezes o texto é mais surrealista, às vezes é mais engraçado, poético, folclórico. O Delírio do Verbo oferece ao publico um panorama do que seria Manoel de Barros”, finaliza.
Joline Maria Ramos é professora e foi conferir a peça na sessão extra, no último domingo, e relatou que o maior destaque, na sua visão, é a dramaturgia ser atual e marcada por uma poética que vai contra a automatização da rotina do dia a dia. “Eu achei especial, a gente não dá um tempo para escutar à nossa volta e perceber as coisas simples da natureza, então o ator relata de forma poética essas coisas boas da vida, como o simples fato de observar a natureza mesmo, que é coisa que, hoje em dia, a gente não para mais para fazer por causa da nossa rotina e sistematização do trabalho, por exemplo. Ele relata uma vida simples e gostosa de interior, incrível”.