Trocando em Miúdos: Coluna Em Cena inicia uma nova série sobre grupos teatrais e artistas. É hora de abrir espaço ao teatro feito Brasil afora.
A escrita reside no íntimo de cada ser. Cada palavra acariciada no velho teclado, apagado pelos toques aflitos de um homem em permanente estado de urgência, é uma pulsão que surge do fundo da alma. Não é a toa que muitos autores, alguns deles com genialidade absoluta, se prenderam a analisar a tal “alma de poeta” que cada ser humano carrega dentro de si.
A poesia existe nos fatos, como nos ensinou Oswald de Andrade, mas os versos que urgem em nosso inconsciente residem, também, no fundo dos olhos da mulher amada, naquele retrato maltratado pelo tempo que guardamos na retina cansada e em tantas outras delicadezas que a vida guarda. Como encontrar a poesia de cada dia? É preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, simples assim.
Assumir uma coluna em um site que, como é o caso d’A Escotilha, faz de suas paixões a razão de sua existência – aqui não temos obrigações e sim desejos, cara-pálida – é uma tarefa ainda mais complicada. Ao assumir esse espaço assumi também alguns desejos coletivos, que engendram minhas próprias vontades. Mesmo diante de alguns conflitos sabemos que estamos todos no mesmo barco, almejando a mesma direção diante do toque manso desse mar cultural em que nos deixamos navegar. Em face desta situação e de todos os desejos e aspirações que envolvem o ato de escrever, e por consequência lutar, ao lado de tão talentosos e corajosos artistas, é necessário voltar os olhos para dentro de nós- e de nossas colunas por aqui – para avaliar e reafirmar nossas crenças e ações.
Meu primeiro texto por aqui, Os caminhos do teatro levam à encruzilhada, saiu no dia 05 de abril. Lá se vão praticamente três meses com artigos semanais e a cobertura de um excelente Olhar de Cinema. Não tenho interesse (e muito menos vontade) de demosntrar por aqui um balanço desses tempo. Nunca! No entanto, é preciso repensar este espaço, ainda que sem alterar nossa essência, de acordo com os caminhos que traçamos, ou ao menos pretendíamos traçar. Por isso, é preciso se reinventar sempre que algo nebuloso se aproxima de nós, manter a atenção, a força e a falta de tempo pra morte; estamos vivos e queremos mudanças, camaradas!
De minha estreia por aqui ressalto o seguinte trecho: “O caminho a ser percorrido há de ser desbravado conjuntamente, como em um jogo de cena. Para tanto, é preciso assumir o nosso protagonismo diante do mundo. O teatro se reinventou e enxerga no público um novo parceiro de cena, a plateia deixou de ser passiva e assumiu seu corpo atuante na ação teatral. Ao escrever sobre teatro acredito que é preciso seguir a mesma direção, o leitor deixa de ser um mero receptor das ideias aqui compartilhadas e passa a tomar partido nos rumos a serem trilhados”. Sim, algo tem me incomodado por aqui e é preciso alterar um pouco o ruma das coisas, mudar a mão da prosa, como dizem por aí.
“O caminho a ser percorrido há de ser desbravado conjuntamente, como em um jogo de cena. Para tanto, é preciso assumir o nosso protagonismo diante do mundo.”
O privilégio de ter um espaço semanal para discutir o teatro, minha paixão absoluta, pode ter afetado, momentaneamente, as diretrizes e os caminhos a serem trilhados por essa coluna. Acabei fazendo daqui um espaço pessoal para se discutir a minha visão de teatro? Acho que não cheguei a esse ponto, mas é preciso cultivar novas ideias e personagens por aqui, isso está claro.
Com a intuito de me redimir pelo egoísmo, ainda que inconsciente, decidi começar uma série nesse espaço. Sem grandes pretensões (além do cultivo e discussões de novas ideias) pretendo mapear e abrir espaço para grupos de teatro, consagrados ou recém-formados, e personalidades que façam do ofício teatral a razão de seus dias. Sem a obrigação de uma periodicidade ou de um formato específico (as ideias surgem dos encontros e eles não podem ser pré-combinados), abro espaço e dou voz, à partir de hoje, a todos aqueles que tenham interesse em colocar seu corpo nesse bailado de deuses vivos e mortos, por onde transitamos em busca do caos. Nesse jogo de cena, todos somos atuadores, todos somos tudo e sempre. Abro por aqui meu e-mail (bruno.zambelli@escotilha.com.br) para sugestões de grupos ou pessoas que possam participar dessa série. Vamos nos encontrar; buscar o outro numa comunhão absoluta em busca de novos caminhos para o teatro, aqui e agora!
Por fim, é preciso dizer que em homenagem ao grande homem de Teatro e brasileiro maiúsculo, Fernando Peixoto, batizo a série com o título de um dos livros de sua trilogia, Teatro em Aberto. Que os ventos soprem na direção do encontro, e que os caminhos abertos de um teatro pulsante abram espaço para uma nova fase dessa coluna semanal. Cheguem, mantenham contato e vamos transformar o cotidiano em carnaval!