A sombra dança na tela cujos movimentos desenham imagens. São corpos dilacerados por um foco de luz que se esbarra no lençol. É a energia antes de entrar em cena, é um silêncio de imagem. É a expressão que brinca com sons, é aquela ansiedade que só se acalma quando a luz apaga e o filme começa. É a caixa preta high tech, é a Rosa dos Ventos: Entre Miragens e Mirações, espetáculo montado pela Trupe Perifeéricos que convida o público a entrar numa fábula de magias e encantos, perdendo-se entre flores e poesias. Modificando a presença do ator entre realidade e mídia. Substituindo o palco pela tela, onde a cenografia apresenta o real-ficcional, um filme que está sendo gravado agora.
A presença de duas linguagens tira um e põe outro, balança no real-ficcional, substitui o texto teatral pela utilização de recursos audiovisuais como prática de diálogo.
Dentro dessa caixa, a Trupe se desconfigura em atuação, desobedece à comunicação presencial, muda o foco, te coloca em outros horizontes e te faz perder a vida de perto. Traz uma dramaturgia marcada pelo vídeo que logo surge em cena onde o teatro vivo fica suspenso e acaba sendo uma ilusão. A Rosa é esse deslocamento, não tem ponto fixo, é perdida no vento. É uma miragem que coloca o público num sonho, mistura o som com o olhar do caleidoscópio e brilha na explosão da informação, é “multiplicação de signos no aparecimento de formas e no retorno do artifício que se anuncia como tal”. (Amiard-Chevrel, Claudine. Frères ennemis ou faux-frères, 1990).
O espetáculo começa sendo rodado numa projeção onde o corpo do Dermond se distorce, mostra um desentendimento de lugar, eleva o pensamento e se bagunça como o vento. Esse desentendimento de lugar mostra uma reconstrução teatral, coloca um vídeo no meio do palco e se sustenta em duas linhas que converge entre história e espaço. Coloca o público no ar, voa, traz de volta para cena e abre para mundo. Onde se dá o espetáculo? Ao que estou assistindo?
A presença de duas linguagens tira um e põe outro, balança no real-ficcional, substitui o texto teatral pela utilização de recursos audiovisuais como prática de diálogo. Mostra uma bagunça de lugar e deixa o sentido das assombrações no silêncio do palco, bem quieto, e só se apresenta quando os atores estão em cena. Traz uma verdade bem disfarçada que a projeção esconde na retina. Ali ela se expande e coloca o teatro como reprodutor da fábula; mostra quem é soberano e faz tudo isso funcionar colocando em evidência sua influência no nascimento da sétima arte.