O cenário amazônico descreve um imaginário pertencente à cultura indígena repleta de saberes tradicionais, assistimos em meio à floresta uma dança onde corpos trocam suas identificações com as tradições existentes no globo terrestre. É no meio da mata, ao som da natureza, que somos levados entre raízes ao encanto das tribos, observando as personificações indígenas que nos mostram outro lugar que se multiplica ao panorama internacional das escrituras teatrais.
A Amazônia é palco de um espetáculo onde os seres atravessam uma linguagem pertencente ao lugar de outra vida, onde os personagens se manifestam em rituais sagrados de uma história movida por descobertas. A paisagem busca uma significação do povo, da representação cabocla que resiste em sua terra. O que ouvimos são as falas de um pensamento existente na maior floresta do mundo.
O drama que ecoa por entre as árvores, surge dos mitos, da beleza que nasce da terra, dos seres que se tornam personagens do próprio local de descobertas. É nesse sentido que vamos compondo o cenário do imaginário amazônico, narrando seus detalhes e acontecimentos que desenvolvem outra realidade da floresta. Ocupar a margem desse local é buscar retratar o que acontece na cultura amazônica. Foi o que pode ser conferido no VII Seminário Internacional de Dramaturgia Amazônida, realizado na Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará, que esse ano homenageou o dramaturgo e diretor Francisco Carlos, amazonense que reside em São Paulo. Sua dramaturgia caminha por um território que desenha o pensamento selvagem presente na sociedade, mostrando o confronto visto na cultura ocidental e indígena inseridas em suas obras como o Jaguar Cibernético.
É nessa troca que Francisco Carlos evidencia o olhar amazônico por meio do índio, ampliando a linguagem artística e cultural em um devaneio contemporâneo.
Seu trabalho busca o reconhecimento do outro, quebra o ego e transforma a percepção da arte primitiva e ameríndia. A ideia inserida em suas obras muda a origem ocidental de interpretação, troca sentidos e se identifica com os indígenas. Suas produções destacam uma percepção diferencial da nossa atualidade, se amplia junto à visão pertencente a esse povo que modifica a presença humana em manifestações ritualísticas, compartilhando grandes referências do mundo. É nessa troca que Francisco Carlos apresenta um olhar amazônico por meio do índio, ampliando a linguagem artística e cultural em um devaneio contemporâneo.
Por meio da troca, a arte vai se multiplicando e ampliamos o sentido artístico existente em vários locais de criações, nossa produção de conhecimento ultrapassa as fronteiras existentes no contexto cultural de nosso tempo. Estamos ligados às ideias artísticas que circulam internacionalmente.
Entre debates e apresentações, o VII Seminário Internacional de Dramaturgia Amazônida buscou mostrar as criações de artistas e professores locais e nacionais, bem como fazer uma troca com profissionais de outros países. Em sua primeira realização internacional, o evento recebeu como convidada a professora Maria João Brilhante, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em Portugal. Sua apresentação ressaltou a importância de escrever para cena, confrontando o sentido real das criações identificadas na dramaturgia portuguesa. O olhar, a palavra e a descrição dramatúrgica recebem destaque das questões presentes na atualidade. A leitura do nosso lugar amplia o conhecimento de nosso território. O diálogo necessita abordar os acontecimentos que surgem em nossas trajetórias artísticas. É através dos fatos que contamos as histórias que observamos em nossos caminhos.
É entre os acontecimentos e nas realizações artísticas produzidas na nossa existência que a dramaturgia vai ganhado forma. Nossa história de vida descreve uma grande obra que o mundo se identifica ao ler. A poética está nas imagens que transfiguram o ambiente observado por nossa presença, somos o outro no mesmo lugar. Nossa produção cresce com os sentidos humanos que destacam o olhar amplo dos territórios. Pertencemos ao cenário exposto da leitura cotidiana, desde o comportamento amazônico ao tempo presente no contexto internacional.