Obra-prima de Mary Shelley, Frankenstein continua a fascinar leitores e críticos literários mais de dois séculos após sua publicação. A Antofágica, editora especializada em clássicos, publicará uma nova tradução (de Fábio Bonillo) da obra no próximo mês. A edição contará com ilustrações de Iuri Casaes, apresentação da criminóloga Ilana Casoy e posfácios de Sofia Nestrovski, Cristhiano Aguiar e Nina da Hora.
Nascida em 30 de agosto de 1797 em Londres, Mary Wollstonecraft Godwin era filha de William Godwin e de Mary Wollstonecraft, precursora do feminismo ocidental. A autora faleceu aos 53 anos em Londres no dia 1 de fevereiro de 1851, vítima de um tumor cerebral.
O romance, escrito quando Mary tinha apenas 18 anos, foi publicado pela primeira vez em 1818 e, posteriormente, revisado e republicado em 1831, tornando-se a versão que entrou para a história e foi adaptada em inúmeras produções audiovisuais e teatrais. A história de Victor Frankenstein e sua criatura aborda temas profundos como a busca pelo conhecimento, a responsabilidade do criador e as consequências de brincar com a vida e a morte.
Os caminhos tortuosos de ‘Frankenstein’
A história de Frankenstein é uma das mais conhecidas e debatidas da literatura mundial. No entanto, a vida de sua autora, Mary Shelley, e as circunstâncias que levaram à criação do romance são igualmente fascinantes e complexas.
Seu enredo gira em torno do jovem cientista Victor Frankenstein, que, obcecado pela ideia de criar vida a partir de matéria inanimada, constrói uma criatura monstruosa. No entanto, ao perceber a magnitude de sua criação, Victor rejeita o ser, que, em busca de aceitação e vingança, mergulha em uma espiral de violência e destruição.
Em um artigo publicado na The New Yorker, a historiadora e jornalista Jill Lepore explora a vida de Mary Shelley e a gênese de sua obra-prima. A autora começou a escrever Frankenstein, ou o Prometeu Moderno aos 18 anos, dois anos após engravidar de seu primeiro filho, um bebê que não chegou a receber um nome.
A jovem autora enfrentou a perda e a dor do luto, o que influenciou profundamente sua escrita. Em seu diário, Mary registrou um sonho em que seu bebê voltava à vida, uma experiência que, segundo Lepore, pode ter sido a inspiração para a história de Victor Frankenstein e sua criatura.
Influências e desafios
Os diários da escritora revelam uma profissional obstinada, que para criar seu filho aceitou até mesmo fazer parte considerável de sua escrita de forma anônima.
Frankenstein é uma narrativa complexa que combina alegoria, fábula, romance epistolar e autobiografia. A obra tem sido objeto de inúmeras interpretações e análises, muitas vezes contraditórias, ao longo dos anos. A própria Mary Shelley enfrentou dificuldades para explicar sua “prole hedionda” e, na introdução que escreveu para uma edição revisada em 1831, atribuiu a história a um sonho vívido.
A vida de Mary Shelley foi marcada por tragédias e desafios, incluindo a morte prematura de sua mãe, a feminista Mary Wollstonecraft, e seu relacionamento tumultuado com o poeta Percy Bysshe Shelley. A autora, no entanto, conseguiu criar uma obra que transcendeu seu tempo e continua a fascinar leitores e estudiosos até hoje.
Os diários da escritora revelam uma profissional obstinada, que para criar seu filho aceitou até mesmo fazer parte considerável de sua escrita de forma anônima. Seu sucesso precoce de público e crítica contrasta com o tamanho das rejeições que sofreu no mercado editorial. Como reforça a escritora Fiona Sampson, após Frankenstein, Mary Shelley “não foi lida apenas como escritora, mas sempre foi julgada como mulher”.
A relevância contemporânea da obra de Mary Shelley
A importância literária de Frankenstein é inegável. O romance é considerado um dos primeiros exemplos de ficção científica e uma obra seminal do gênero gótico. Além disso, a história de Mary Shelley aborda questões éticas e filosóficas que continuam relevantes até hoje.
O livro rompeu o campo literário, influenciando até mesmo a ciência e tecnologia. Questões éticas sobre os limites da criação humana e o papel da ciência na sociedade permeiam o título de Shelley, ecoando e mantendo-se relevantes até hoje, à medida que avançamos em áreas como engenharia genética, inteligência artificial e biotecnologia.
Para a poetisa e biógrafa britânica Fiona Sampson, a obra-prima de Shelley é “um livro que fala ao coração das preocupações contemporâneas sobre a ciência, a tecnologia e a ética”. Em artigo publicado no The Guardian nas celebrações dos 200 anos do livro, Sampson sugeriu que Frankenstein antecipou os debates sobre ansiedades tecnológicas e culturais feitas do Iluminismo até o movimento #MeToo, mas também fez “uma análise do que é ser mãe e sozinha no mundo”.
FRANKENSTEIN | Mary Shelley
Editora: Antofágica;
Tradução: Fábio Bonillo;
Tamanho: 328 págs.;
Lançamento: Julho, 2023.
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