Mais recente documentário do cineasta paranaense Guto Pasko, já em cartaz nos cinemas, Aldeia Natal é um filme de viagem, que nos conduz, como espectadores, a diferentes territórios, que vão da Ucrânia, terra ancestral da família do diretor, a seu passado, e à complexa teia de relações que ele mantém com seus pais e irmãos desde que saiu de casa antes mesmo da adolescência.
O filme parte de uma experiência profundamente autobiográfica, destacando o relacionamento do diretor com a família, e também sua própria identidade, como um artista brasileiro, descendente de imigrantes ucranianos, cuja origem étnica tem incontornável impacto sobre sua obra, central em filmes como Made in Ucrânia – Os Ucranianos no Paraná (2006) e Iván (2011), e sua vida pessoal.
A narrativa individual de Pasko se expande para abordar temas mais amplos, abrangendo aspectos tanto do Brasil quanto de questões universais, como relações familiares, religiosidade, imigração, tradição cultural e a busca por raízes ancestrais.
A narrativa individual de Pasko se expande para abordar temas mais amplos, abrangendo aspectos tanto do Brasil quanto de questões universais, como relações familiares, religiosidade, imigração, tradição cultural e a busca por raízes ancestrais.
O filme foi gravado entre 2018 e 2019, com locações em Queimadas, área rural de Prudentópolis, no interior do Paraná, e na Ucrânia. A equipe de produção explorou a região oeste ucraniana em novembro de 2019, portanto antes da guerra deflagrada com a Rússia. Algumas das províncias visitadas também enfrentaram bombardeios recentes, o que adiciona um elemento de complexidade à jornada filmada.
A trama do documentário, com duração de 98 minutos, gira em torno do retorno de Pasko a sua “aldeia natal”, que é tanto um espaço geográfico quanto afetivo e identitário. A busca por uma conexão renovada com sua família, incluindo pais, irmãos e as raízes históricas e culturais de seus antepassados, forma o centro nervoso da narrativa, muito íntima, comovente.
‘Aldeia Natal’: clímaxes
Há dois clímaxes no filme. O primeiro é a viagem à Ucrânia, na qual Pasko, juntamente com os pais, percorrem aldeias isoladas em busca de vestígios de antepassados imigrantes e parentes ainda vivos. Essa busca, no entanto, vai bem além de encontrar nomes em lápides antigas ou primos distantes: é uma jornada de reaproximação do cineasta com seus pais, proporcionando a eles um mergulho em sua própria identidade.
O filme também explora as divisões familiares geradas por divergências religiosas, tradições, costumes e até geracionais. O segundo clímax é uma reunião natalina em Queimadas, durante a qual Guto, com a presença de sua câmera, provoca um catártico e muito emocional acerto de contas, em que seus pais e irmão expressam seus sentimentos em relação ao laços que os unem, mas também a respeito de silenciamentos que os separam.
Prudentópolis, que acolheu parte das filmagens, é notável por abrigar a maior comunidade de descendentes de ucranianos no Brasil. A forte religiosidade e isolamento dessa região preservaram uma rica herança cultural, incluindo língua, música, dança e rituais religiosos. O documentário evidencia como é tensa a relação que Pasko mantém como esse legado, um misto de orgulho e repulsa, desconforto.
Em seu âmago, Aldeia Natal é uma corajosa viagem emocional e reflexiva que explora a busca pela identidade pessoal, os laços familiares e a rica tapeçaria cultural de uma comunidade de imigrantes, essencial à pluralidade étnica do Paraná.
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