A cineasta Paola Cortellesi, também atriz e cantora, quebrou recordes de bilheteria na Itália com sua estreia na direção em Ainda Temos o Amanhã. Seu filme, em cartaz nos cinemas brasileiros, é um tocante drama ambientado na Roma do pós-Segunda Guerra, que aborda o tema do abuso doméstico. Sua protagonista, uma heroína, enfrenta a opressão machista e da crueldade de gênero por meio de recursos narrativos que flertam com o realismo mágico-neorrealista e o musical, tudo isso apresentado com um estilo teatral ousado e muito bem composto em uma estética monocromática luminosa.
O filme presta uma sincera homenagem às primeiras obras de Vittorio De Sica e Federico Fellini, enquanto Cortellesi emula o espírito das grandes divas do cinema de seu país, como Anna Magnani, Sophia Loren e Giulietta Masina, em sua própria performance. A história se desenrola em Roma logo após o término da Segunda Guerra Mundial, época em que os soldados estadunidenses eram uma presença constante nas ruas e as mulheres italianas recém-conquistavam o direito ao voto, embora exercê-lo sob o olhar maligno dos homens misóginos do filme fosse um desafio à parte.
O filme presta uma sincera homenagem às primeiras obras de Vittorio De Sica e Federico Fellini, enquanto Cortellesi emula o espírito das grandes divas do cinema de seu país, como Anna Magnani, Sophia Loren e Giulietta Masina, em sua própria performance.
Delia, interpretada por Cortellesi, é uma mulher que sofre constantes abusos físicos de seu marido brutal, Ivano (Valerio Mastandrea). Ela é forçada a servir em casa, cuidar de seu pai idoso e ranzinza (interpretado brilhantemente pelo veterano comediante Giorgio Colangeli), além de realizar trabalhos pela cidade, cujo pagamento precisa entregar diariamente ao marido. Sua filha adolescente, Marcella (Romana Maggiora Vergano), testemunha o sofrimento e a humilhação da mãe, enquanto é obrigada a compartilhar o mesmo quarto com seus irmãos pequenos e irrequietos.
Apesar das adversidades, Delia desperta interesse em admiradores como um soldado norte-americano preocupado com seus machucados e um antigo amor, agora mecânico, que lamenta o que poderia ter sido entre eles. Entretanto, um segredo guardado por Delia em um pedaço de papel pode ser a chave para sua libertação dessa prisão pessoal. O que seria esse segredo? Uma carta de amor? Um documento legal capaz de mudar seu destino? A resposta mantém o espectador tenso e ansioso, até que a trama se encerra de maneira surpreendente, entrelaçando o pessoal e o político com um impacto emocional potente.
Ainda Temos o Amanhã é um relato narrativo conduzido com notável confiança e panache, que evita o realismo, capturando a essência humana e social de um período histórico e culturalmente significativo. O filme, que na Itália, teve mais bilheteria do que Barbie, deu a Cortellesi os prêmio David di Donatello (o Oscar italiano) de melhor atriz, roteiro original e direção estreante.
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