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Lorde renasce em ‘Virgin’ com pop cru e sem medo da dor

Em 'Virgin', disco mais íntimo da carreira, a artista neozelandesa Lorde abandona o ideal solar para explorar traumas, desejo e identidade com honestidade devastadora.

porPaulo Camargo
3 de julho de 2025
em Música
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Cantora neozelandesa causou furor com capa de novo álbum. Imagem: Thistle Brown / Divulgação.

Cantora neozelandesa causou furor com capa de novo álbum. Imagem: Thistle Brown / Divulgação.

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Lorde nunca foi uma artista previsível. Desde que surgiu, ainda adolescente, com o sombrio Pure Heroine (2013), tornou-se símbolo de uma geração que via na melancolia um traço de identidade. Com Melodrama (2017), atingiu seu auge criativo, equilibrando dor emocional e euforia pop com maestria. Depois, em Solar Power (2021), optou por um retiro ensolarado, minimalista e quase monástico, que dividiu opiniões. Agora, quatro anos depois, ela retorna com Virgin, seu disco mais íntimo, arriscado e incisivo até aqui.

Não há sol em Virgin. O que há é sombra, carne, suor, sangue — e uma artista que decide escancarar suas fragilidades com uma honestidade quase desconfortável. Ao invés de buscar coesão sonora ou narrativa, Lorde mergulha em um universo fragmentado e visceral, onde cada faixa parece uma nova ferida aberta — ou uma cicatriz que ela finalmente decidiu encarar.

Logo na abertura, “Hammer”, ela já estabelece o tom: “Talvez eu tenha renascido, estou pronta para não ter respostas.” É uma confissão que desmonta a persona espiritualizada de Solar Power e anuncia um trabalho sobre reconstrução. Só que, antes de reconstruir, é preciso demolir. E é isso que ela faz, faixa após faixa.

O som de Virgin remete ao synth-pop de Melodrama, mas em uma versão mais crua, menos exuberante. As batidas são secas, eletrônicas, muitas vezes minimalistas, abrindo espaço para que a voz grave e sempre expressiva da artista seja o foco. Há momentos em que o disco se aproxima do eletroclash, como na poderosa “Broken Glass”, que trata de transtornos alimentares com imagens viscerais e batidas quase dançantes. Em outros, como em “Clearblue” — talvez o ponto mais doloroso do álbum —, a voz de Lorde surge sozinha, sem qualquer acompanhamento, em um lamento cru sobre maternidade, legado genético e medo.

O som de Virgin remete ao synth-pop de Melodrama, mas em uma versão mais crua, menos exuberante.

A temática do trauma familiar atravessa o álbum como uma linha de costura. Em “Favourite Daughter” e “GRWM” (a sigla aqui significa “grown woman”, e não “get ready with me”), a cantora expõe o peso de agradar, a herança emocional da mãe, a construção de sua própria feminilidade. Não é raro que, ao longo do disco, ela cante diretamente para essa figura materna — ora com amor, ora com raiva, ora com uma clareza desconcertante. O corpo também é tema recorrente: aparece como território de desejo, mas também como campo de batalha, memória viva das dores do passado.

Mesmo nos momentos de aparente leveza, como em “Current Affairs”, canção que fala sobre um novo romance, Lorde não alivia a intensidade. “Você cuspiu na minha boca como quem reza”, ela canta com uma serenidade quase angelical, subvertendo a imagem e transformando o ato em rito sagrado.

Na enigmática “What Was That?”, Lorde brinca com a memória e a desorientação emocional, como se tentasse reconstruir uma cena que já se apagou — ou talvez nunca tenha existido de fato. A faixa mistura camadas de vocais distorcidos com uma base eletrônica instável, quase claustrofóbica, que pulsa como um ataque de pânico contido. Liricamente, é uma meditação sobre lapsos de consciência e os rastros que relações intensas deixam na mente e no corpo. “Foi real ou só um sonho ruim?”, ela pergunta, num tom entre o cético e o devastado. O efeito é o de um delírio lúcido, em que a artista nos convida a percorrer os corredores escuros de sua psique, onde passado e presente se embaralham e tudo parece à beira do colapso.

Há algo de carnal e espiritual em toda a experiência de Virgin — como se sexo, dor, fé e memória estivessem todos fundidos em um mesmo gesto.

Musicalmente, o álbum soa menos preocupado com hits e mais com expressão. Ainda assim, faixas como “Shapeshifter” ou “Broken Glass” têm potencial de ressoar nas pistas mais sensíveis — aquelas que dançam com dor e ironia. O álbum se aproxima do universo emocional da cantora sueca Robyn, sobretudo em sua vulnerabilidade dançante, mas sem o verniz pop desta: tudo em Virgin é mais cru, mais humano, mais falho.

Na reta final, Lorde parece finalmente alcançar algum tipo de força. Em “If She Could See Me Now”, fala sobre superar os pesos do passado — inclusive os dos ex-namorados, que agora ela “levanta na academia”. E encerra com “David”, um desabafo direto e quase cinematográfico. Se Virgin começa em espiral, termina com os pés no chão. Não há resolução completa, mas há clareza — e, talvez, a consciência de que nem tudo precisa ser resolvido.

Virgin não é um retorno triunfal no sentido convencional — não há hits óbvios nem refrões prontos para o TikTok. Mas é, sem dúvida, um dos trabalhos mais intensos e reveladores do pop recente. Lorde não volta para agradar. Volta para dizer que ainda está tentando entender quem é — e que, nessa busca, pode se reinventar mais uma vez. E nós, ouvintes, seguimos com ela, entre espelhos quebrados e luzes azuis.

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Tags: Crítica MusicalLordeMúsicaVirgin

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