A Globo resolveu brincar de TikTok e lançou Tudo por uma Segunda Chance, seu microdrama vertical de capítulos de três minutos, a duração exata de um “não sei por que cliquei nisso”. A promessa era modernizar a novela; o resultado é apenas miniaturizá-la, como quem coloca uma girafa dentro de um estojo e finge que funcionou.
A mocinha Paula Magalhães (Débora Ozório) sofre tanto e tão rápido que parece viver em velocidade 3x: perde o noivo (Daniel Rangel), é traída pela amiga, vai presa, respira fundo… e o capítulo acaba. A vilã Soraia, interpretada por Jade Picon, entrega o tipo de antagonismo pensado especialmente para o feed: olhar torto, frase curta e maldade de bolso. Funcional como uma notificação — e tão profunda quanto ela.
O elenco veterano — Beth Goulart, Leonardo Brício, Vanessa Gerbelli, Marcos Winter — tenta, com a dignidade possível, conferir gravidade a um formato que tem alergia a nuance. Eles aparecem tão rapidamente que, se você piscar, perdem a participação especial.
A sensação, ao final, é curiosa: é como assistir ao trailer de uma novela que nunca chega a existir por completo. Tudo está ali — os conflitos, as tensões, os personagens —, mas nada permanece tempo suficiente para ganhar corpo. Quando o capítulo termina, a gente se pega pensando se realmente viu algo ou se só deslizou o dedo mais uma vez.
A sensação, ao final, é curiosa: é como assistir ao trailer de uma novela que nunca chega a existir por completo.
No fundo, Tudo por uma Segunda Chance revela um desconforto maior: a Globo tenta falar com um público que se move no ritmo das redes, mas ainda tropeça nos próprios velhos hábitos. Falta risco, falta estranhamento, falta aquele gesto que diga “sim, tentamos algo novo de verdade”.
Por enquanto, o que há é uma novela que cabe no bolso, mas escapa da memória. Um drama comprimido, quase sufocado, que deseja ser moderno, mas teme ser ousado. E talvez seja isso que mais me incomoda: a sensação de que, com um pouco mais de coragem formal, esse microdrama poderia ter sido, de fato, outra coisa.
Assim, seguimos dando scroll. Porque, no fim das contas, é o que o formato espera de nós.
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