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Nova temporada de ‘Um Espião Infiltrado’ aposta no conforto e perde o peso emocional

A nova leva de episódios de ‘Um Espião Infiltrado’ suaviza tensões e aprofunda o tom “fofo”, sacrificando a densidade temática que definia a série.

porAlejandro Mercado
4 de dezembro de 2025
em Televisão
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Casal na vida real, Mary Steenburgen e Ted Danson fazem par romântico na nova temporada. Imagem: Dunshire Productions / Divulgação.

Casal na vida real, Mary Steenburgen e Ted Danson fazem par romântico na nova temporada. Imagem: Dunshire Productions / Divulgação.

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A primeira temporada de Um Espião Infiltrado, série de Michael Schur para a Netflix, surpreendia não apenas pelo formato híbrido — comédia leve, mistério policial e drama sobre envelhecimento —, mas principalmente pelo cuidado em articular essas camadas. O luto do protagonista Charles, vivido por um sempre elegante Ted Danson, sustentava uma linha dramática que conferia espessura emocional ao que poderia ser apenas uma sitcom sofisticada. Havia graça, havia delicadeza, mas havia também uma sombra, um sentido de perda que atravessava cada escolha narrativa.

A segunda temporada, no entanto, parece fazer questão de dissipar essa penumbra. É aqui que a série se aproxima perigosamente da “mid TV” (algo como TV mediana), termo cunhado pelo crítico do The New York Times James Poniewozik — a profusão de produtos competentes, agradáveis, mas essencialmente inofensivos, projetados para não incomodar nem provocar, apenas preencher vazios de atenção. E embora Um Espião Infiltrado nunca tenha prometido ser uma revolução formal, sua adesão à fofura generalizada reduz a força que antes a distinguia no catálogo da Netflix.

A trama da vez reacende o dispositivo básico da série — Charles se passando por alguém que não é para investigar um crime menor — agora em um campus universitário. O roubo de um laptop, envolvendo um reitor narcisista ameaçado por segredos potencialmente reveladores, funciona como motor narrativo, mas com a mesma leveza quase decorativa da primeira temporada. A diferença é que, agora, esse mecanismo não encontra contraponto dramático. Se antes o mistério era um meio para explorar a vulnerabilidade de um homem lidando com a morte da esposa, agora parece apenas um pretexto para deslocamentos cômicos, encontros simpáticos e pequenos sobressaltos emocionais que jamais ameaçam a superfície da trama.

O resultado é uma experiência agradável, mas rarefeita. A série funciona, sim, como televisão de conforto — e há mérito nisso —, mas não como a comédia dramática de densidade inesperada que um dia foi. Em termos de ritmo, tudo continua funcionando naquele compasso lento e conversado que os fãs da obra já conhecem. Porém, o que antes era espaço para respiração sensível, agora se aproxima de letargia. A temporada se instala num registro de calor humano tão insistente que a previsibilidade se torna regra: tudo se resolve sem grandes consequências, tudo é acolchoado pela promessa de que, no fim, a vida segue macia para todos os envolvidos.

O romance entre Charles e a professora Mona (Mary Steenburgen), que poderia ser uma oportunidade para redefinir o eixo emocional da série, se resolve num registro quase bucólico. A química funciona, como seria de esperar de um casal com décadas de parceria fora da ficção (casados desde 1995), mas a condução narrativa evita qualquer profundidade maior: trata-se de um flerte gentil, uma sucessão de cenas agradáveis que não se arriscam a refletir verdadeiramente sobre as segundas chances na maturidade. A série, portanto, toca em um tema promissor, mas recua antes de encontrar nele o que encontrou no luto da temporada anterior: verdade.

No que diz respeito à comédia, Um Espião Infiltrado continua apostando em um humor suave, por vezes infantilizado, que funciona em alguns momentos — graças, sobretudo, às participações de atores como Max Greenfield e Jason Mantzoukas —, mas raramente surpreende. A sensação é de que Schur e sua equipe operam em modo automático, confiando mais no carisma do elenco do que na necessidade de renovar piadas ou tensionar situações. Em tempos de saturação do mercado e da estética streamer, essa escolha revela um projeto que aceita ser ruído de fundo — o que, para alguns espectadores, é virtude; para outros, desperdício.

O resultado é uma experiência agradável, mas rarefeita. A série funciona, sim, como televisão de conforto, mas não como a comédia dramática de densidade inesperada que um dia foi.

Isso não significa que a temporada seja um fracasso. Muito pelo contrário: há algo de admirável na maneira como a série se reorganiza em torno de relações humanas e na tentativa de manter Charles como protagonista emocional de sua própria história. A direção é segura, a fotografia mantém o brilho cálido que define o tom da obra e o elenco secundário — mesmo subaproveitado — oferece momentos de genuíno afeto. O problema é que, para uma série que já demonstrou ser capaz de mais, a decisão de se contentar com menos se torna evidente.

No fim, Um Espião Infiltrado entrega exatamente aquilo que parece querer entregar: leveza, acolhimento, um mistério despretensioso, personagens confortáveis de acompanhar. Mas ao fazer isso, abre mão da ambição emocional que a tornava especial. A segunda temporada confirma que Schur continua interessado em histórias gentis sobre pessoas decentes — o que, num panorama tão cínico, é refrescante —, mas também confirma que a série escolheu sobreviver pelo caminho da suavidade. Uma suavidade que, em excesso, dilui sua potência.

É possível que muitos espectadores encontrem aqui a companhia perfeita para um fim de dia exausto. Mas para quem viu na primeira temporada um lampejo de algo maior, esta segunda deixa a impressão de que Um Espião Infiltrado preferiu não se aprofundar — optando por ser, acima de tudo, simpática. E talvez simpática demais.

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Tags: Michael SchurNetflixSérieTed DansonUm Espião Infiltrado

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