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Geese transforma exaustão em movimento em ‘Getting Killed’

Entre paranoia, ternura e absurdo, o Geese transforma o caos contemporâneo em ‘Getting Killed’, seu disco mais vivo, arriscado e emocionalmente exposto.

porAlejandro Mercado
22 de dezembro de 2025
em Música
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Da esquerda para a direita: Cameron Winter, Max Bassin, Dominic DiGesu, Emily Green. Imagem: Jeremy Liebman / Reprodução.

Da esquerda para a direita: Cameron Winter, Max Bassin, Dominic DiGesu, Emily Green. Imagem: Jeremy Liebman / Reprodução.

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Getting Killed soa como o disco mais vivo do Geese, e isso é profundamente irônico e revelador. Não vivo no sentido de celebração solar ou otimismo fácil, mas no de pulsação nervosa: um álbum que sangra, tropeça, se contradiz e insiste em continuar. Depois da guinada estética e emocional representada por Heavy Metal, estreia solo de Cameron Winter, o retorno do vocalista ao grupo não resulta em contenção nem em lapidação excessiva. Pelo contrário: Getting Killed parece interessado em levar essa intimidade recém-descoberta ao limite do colapso coletivo.

Produzido em parceria com Kenny Beats, o disco abandona qualquer compromisso com formas tradicionais do rock sem jamais romper com sua história. O Geese ainda dialoga com pós-punk, classic rock, soul torto, funk nervoso e baladas sentimentais, mas agora tudo isso aparece reorganizado por uma lógica própria, fragmentada, quase improvisada, como se cada faixa estivesse sempre a um passo de se desintegrar. Não por incompetência, mas por escolha estética.

Logo na abertura, “Trinidad” estabelece o pacto com o ouvinte. O caos não será apenas sonoro, mas simbólico. A repetição do verso “There’s a bomb in my car” funciona menos como imagem literal e mais como estado de espírito — a sensação de atravessar o mundo carregando consigo a própria ameaça. As cenas domésticas narradas com frieza absurda, a perda dos sentidos (“When I went deaf / I used my eye”) e a fuga final quando o sinal fecha compõem um retrato grotesco e perturbador de normalidade implodida. O Geese não explica, não contextualiza, não alivia. Apenas expõe.

Esse procedimento se repete ao longo do álbum. Letras que operam por justaposição, imagens que se acumulam até fazer sentido não pela lógica, mas pela insistência. Em “Getting Killed”, faixa-título e eixo conceitual do disco, Winter verbaliza o paradoxo central da obra: “I’m getting killed by a pretty good life”. Não se trata de miséria explícita, mas de esgotamento, ou seja, o tipo de violência invisível que nasce da expectativa de sucesso, da vida urbana, da constante mediação de tudo. “I’m a TV on the road”, ele canta, resumindo a sensação de existir como superfície transmissora, sempre ligada, sempre exausta.

Musicalmente, o grupo atinge aqui uma síntese rara. A banda soa solta, mas absolutamente consciente do próprio caos.

Ainda assim, Getting Killed não é um disco cínico. Há ternura aqui, mesmo quando disfarçada. “Half Real” questiona definições pragmáticas de amor sem descartá-lo; “Au Pays du Cocaine” constrói uma das declarações afetivas mais generosas do álbum ao aceitar a liberdade do outro como condição do vínculo (“You can be free / And still come home”). Mesmo em meio à paranoia, há espaço para cuidado — ainda que frágil, ainda que provisório.

O disco também articula uma crítica persistente à masculinidade isolada e performática. “Islands of Men” expõe o impulso masculino de fuga, a recusa em encarar o real, o confinamento em arquipélagos emocionais estéreis. “Man is an island”, repete a canção, não como constatação heroica, mas como diagnóstico de falência afetiva. Em “Husbands”, a solidão surge quase como vocação sagrada, um estado que resiste mesmo após o colapso das estruturas tradicionais de relação.

Quando o Geese olha para fora, o faz com humor ácido. “100 Horses” transforma guerra em espetáculo, autoridade em caricatura, medo em política pública. Generais anunciam que “all people must smile in times of war” enquanto a dança se impõe como distração obrigatória. Não há redenção, apenas movimento — dançar para não olhar, cantar para não colapsar. Já “Taxes” condensa culpa, recusa e violência institucional em pouco mais de dois minutos, com o Estado assumindo contornos religiosos e punitivos.

Musicalmente, o grupo atinge aqui uma síntese rara. A banda soa solta, mas absolutamente consciente do próprio caos. A bateria de Max Bassin conduz o disco tanto quanto Winter; guitarras e baixos se movimentam como organismos inquietos; os arranjos privilegiam repetição, crescendo e desgaste em vez de resolução. Muitas faixas funcionam como extensões de um momento, não buscam o refrão perfeito, mas a exaustão produtiva.

“Long Island City Here I Come”, que encerra o álbum, resume o espírito da obra. Um épico errante, povoado por referências históricas, paranoia contemporânea e confissões de desorientação. “I have no idea where I’m going… here I come”, canta Winter, e talvez não haja verso que descreva melhor Getting Killed. Não é um disco que aponta caminhos, é um que documenta o deslocamento.

Getting Killed se afirma como o trabalho mais arriscado, curioso e emocionalmente honesto do Geese. Um álbum que não busca respostas nem estabilidade, mas que aposta — com rara convicção — na potência do tropeço, da repetição, do quase fracasso. Quanto mais a música contemporânea parece exigir performance constante, o Geese escolhe expor o colapso. E, paradoxalmente, é nisso que o disco encontra sua força.

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Tags: Cameron WinterGeeseGetting KilledMúsica

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