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Quando mais jovem, sempre ouvia relatos muito extremos sobre ter filhos: ou era péssimo e devastador, ou era maravilhoso como nadar em um mar de rosas. Essa dicotomia sempre me deixou confusa e, no fim das contas, descobri que não é nem uma coisa nem outra. A vida continua bem parecida como sempre foi, embora seja preciso adaptar e ceder (o que é um ótimo exercício para a vida em sociedade em geral).

Digo isso porque uma parte da vida que eu levava sem filhos e que, em particular, poderia me afetar profundamente caso o primeiro extremo correspondesse à realidade era o fato de viajar. Coisa que sempre fiz e priorizei: nem precisavam ser viagens espetaculares para lugares distantes. Ir visitar a família ali a 100 km, ir a uma cidade da região metropolitana por causa do trabalho ou passar um fim de semana na praia mais próxima já estava de bom tamanho.

Por sorte, descobri que viajar com filhos é possível e viável. Que, por mais estranho que pareça, quanto mais novinhos são os bebês, mais fácil é viajar – pois, para estes, basta estar no colo dos pais que está tudo bem. Agora, com uma criança um pouquinho maior, há fatores essenciais que devem ser levados em conta: o quê, aonde e como alimentar a pequena criatura, como adaptar a programação para que possam dormir e brincar, entender que alguns programas terão de ser trocados por outros.

Dá vontade de levá-la para dar uma volta ao mundo toda vez que ela presta atenção em alguém usando uma roupa típica de algum lugar ou quando passa o resto do dia tentando imitar o hola espanhol que ouviu na rua.

Essa adaptação não é difícil nem exige grandes recursos. Exige paciência e disposição. Por aqui, se vamos viajar de carro, planejamos sair em horários em que a criança durma, para que descanse em um trecho da viagem.

Não pode haver ânsia de chegar mais rápido. É preciso fazer mais paradas e algumas devem ser mais longas, afinal, a criança precisa de espaço para se esticar (os adultos também, embora a gente nunca admita) e brincar com os pés no chão.

Escolhemos evitar a comida industrializada, então um bom farnel também precisa ser preparado. É preciso levar bem mais bagagem (roupas extras, roupas para qualquer possibilidade de clima), um brinquedinho, o carrinho.

Nenhum esforço parece dispendioso se comparado com a fascinação que vejo nos olhos da minha pequena filhota quando ela vê algo novo. Ou quando escuta um idioma ou sotaque diferente do que está habituada. Dá vontade de levá-la para dar uma volta ao mundo toda vez que ela presta atenção em alguém usando uma roupa típica de algum lugar ou quando passa o resto do dia tentando imitar o hola espanhol que ouviu na rua.

A criança cresce e se desenvolve no contato com a sociedade. Levar os filhos para viajar quando é possível ou quando se quer de fato (reitero que: nada contra quem quer viajar sem filhos, provavelmente em breve eu devo querer também) é deixar que encarem o novo, o diferente, a diversidade. É permitir que aceitem mais, que aprendam mais, que ampliem sua visão de mundo.

Estou totalmente ciente que minha filha não lembrará, de fato, das inúmeras viagens que fizemos neste período – ainda curto – em que ela está aqui com a gente. Mas não vejo a hora de mostrar fotos, de contar histórias, de ensinar para ela a importância de cultivar o hábito de viajar e estar pronta para encarar o mundo sob uma nova perspectiva, provar novos temperos e compreender que o mundo que a gente vive é tão pequeno e é tão grande ao mesmo tempo que não faz sentido ficar em um lugar só.