A decisão pelo voto nulo é sempre uma decisão dolorosa. Mais do que um candidato detestável ganhar em primeiro turno, como já aconteceu nessa cidade, postergar a decisão democrática de um cargo do executivo para quase um mês depois e ter que escolher entre dois cidadãos lamentáveis com projetos de governo igualmente infelizes deixa todo o processo de votação muito deprimente.
Postergar a decisão democrática de um cargo do executivo para quase um mês depois e ter que escolher entre dois cidadãos lamentáveis com projetos de governo igualmente infelizes deixa todo o processo de votação muito deprimente.
Primeiro, é preciso sair de casa, ir até outro ponto da cidade. Aí uma série de contratempos: enfrentar uma fila, o mesário que não acha seu nome, a biometria que não parece que passou a vida inteira lendo dedo e não sabe ler o seu, a urna eletrônica que dá problema da primeira vez e aí sim, quando finalmente é chegada a hora de votar, a insatisfação de colocar um número qualquer e apertar o botão verde sabendo que seu voto acabou de ir pelo ralo pela simples falta de coisa melhor.
Triste, é. Mas é o que acontece quando nenhum dos projetos de governo serve para a sua visão de mundo, e viver sem a perspectiva de que alguma coisa pode melhorar com uma eleição é mais triste do que anular um voto. Anular a participação em um processo como esse é um contentamento descontente que a democracia pode oferecer. Pelo menos isso. Em quantos outros aspectos da vida não há a opção de voto nulo, e é preciso seguir conforme a banda toca sem que um protesto silencioso sequer possa ser feito?
Quando esta crônica for publicada, já teremos um novo prefeito em Curitiba. Desde o momento da concepção desse texto, já tenho a segurança e a certeza para dizer que não gostei do resultado. E ainda não fui votar, mas meu voto será muito fácil: 00 e confirma, para que minhas esperanças na democracia não sejam anuladas com uma escolha da maioria que eu considero muito ruim. Uma pena.
Uma pena.