As limitações dramáticas de Keanu Reeves, um ator carismático mas inexpressivo, foram muitas vezes utilizadas a seu favor. Caíram como uma luva no messiânico, e quase sempre impassível Neo, protagonista da trilogia Matrix, e também são bastante úteis na construção de John Wick, personagem central de De Volta ao Jogo (2014), cujo inesperado êxito comercial e de crítica abriram caminho para a sequência John Wick – Um Novo dia para Matar, em cartaz nos cinemas brasileiros.
O personagem, um assassino profissional, é uma máquina mortífera, e tem como marca registrada sua frieza elegante. “Uma vez eu o vi matar três homens com um único lápis”, fala deste novo longa, que refere-se ao primeiro episódio e parece sintetizar o (anti)herói, escrito sob medida para Reeves. Nas duas produções, ambas dirigidas por Chad Stahelski, Wick é capaz de vencer um exército sozinho, com a empáfia de quem vai a um jantar a rigor.
No primeiro filme, Wick, traumatizado pela perda da mulher, sofre outros baques emocionais: teve que lidar com a morte do seu cão de estimação e com o roubo do automóvel de estimação. E acaba fazendo da morte um meio de expressão de sua dor. Afinal, é um paladino de poucas palavras, na melhor tradição dos heróis do western, vividos no passado por John Wayne e Clint Eastwood. O silêncio também é uma arma.
Wick é capaz de vencer um exército sozinho, com a empáfia de quem vai a um jantar a rigor.
Encerrada sua missão, não por acaso, decidiu se afastar de um cotidiano marcado pela violência extrema. Mas a decisão não dura muito. Tenta, mas não escapa de cumprir uma última missão: assassinar Gianna (Claudia Gerini), a mando do próprio irmão — Santino (o astro italiano Riccardo Scamarcio), que nela vê um obstáculo em sua rota de ascensão no mundo do crime.
Com uma trama bem menos surpreendente do que a de De Volta ao Jogo, Stahelski tenta compensar a falta de um roteiro melhor com muitas cenas de ação, entre perseguições automobilísticas, trocas tiros e facadas que atravessam o Atlântico, de Nova York a Roma. Em meio à previsibilidade, um certo humor que caracteriza os dois filmes, que emana da postura inabalavelmente cool do protagonista, mantém um certo interesse, e por mais tempo viva a carreira de Reeves, o herói de uma cara só.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.