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‘Longe da Árvore’: a criação dos filhos e a morte de todas as expectativas

No impactante 'Longe da Árvore', Andrew Solomon investiga as tensões e os afetos nas relações familiares nas quais os filhos nascem diferente dos pais.

porMaura Martins
2 de março de 2017
em Literatura
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andrew solomon longe da árvore

Em uma obra densa, o jornalista Andrew Solomon investiga as consequências das chamadas identidades horizontais nas famílias. Foto: Divulgação.

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Ao se depararem com a gloriosa aventura de ter um filho, muitas vezes os pais são incentivados a buscar algum tipo de preparo, o qual normalmente tem a ver com a gravidez, com os cuidados do recém-nascido e com a manutenção da própria sanidade mental. Não obstante, há pouca coragem e franqueza para lidar com o fato de que os filhos nos põem diante da realidade da vida, que é o total descontrole que temos sobre tudo. Admitamos ou não, nutrimos sempre expectativas sobre a prole – e o que acontece quando ocorre de o fruto cair longe do pé, ou seja, quando o filho é diferente de nós?

É esta a temática explorada no impactante Longe da Árvore (Companhia das Letras, 2013, 1056 págs), do jornalista Andrew Solomon. Famoso por suas obras de cunho investigativo e interpretativo (dentre as quais a mais famosa talvez seja O Demônio do Meio-dia, referenciada por muitos como o maior tratado recente sobre a depressão), Solomon tem como característica de seu estilo o fato de que costuma partir de temas que, em alguma medida, surgem de sua própria vivência. Foi assim com o livro anterior, no qual investigava uma doença que o acometeu por muitas décadas; já em Longe da Árvore, ele vai atrás de uma das razões relacionadas à sua depressão: o fato de que é gay, ou seja, diferente das expectativas que os pais tinham para ele, o que gerou uma série de sofrimentos ao longo de sua vida.

A relação do jornalista com os pais é uma abordagem recorrente durante todo o livro. A narrativa desta história pessoal, que compreende uma boa parte de perdão (a si mesmo e à família), é tratada de forma simultaneamente comovente e bem-humorada (Solomon diz, por exemplo, que o fato de que, quando era criança, a mãe não deixou que ele escolhesse um balão cor de rosa em uma loja, insistindo que sua cor favorita era azul, esclarece que ela tinha pouca influência sobre como se desenrolaria sua personalidade e suas escolhas de vida).

A partir deste fato pessoal, Solomon se debruça sobre as chamadas identidades horizontais, ou seja, aquelas que se diferenciam das heranças familiares, em oposição às identidades verticais, quando os filhos dão seguimento às características dos pais (como, por exemplo, a etnia, a língua, os filhos que seguem a mesma religião e a mesma orientação sexual dos progenitores). A constatação do jornalista é clara e impactante desde o primeiro capítulo: enquanto as identidades verticais são celebradas e esperadas, as identidades horizontais costumam ser vistas com tristeza, como defeitos que precisam ser corrigidos.

Nesta empreitada, Solomon se propõe a explorar as consequências do surgimento das identidades horizontais (algumas comuns, outras nem tanto) dentro do seio de diversas famílias. Sua proposta tem algo de provocativa: ele agrupa no mesmo livro a investigação acerca de casos de autismo, de esquizofrenia, de pais que tiveram filhos surdos ou com síndrome de Down, dos que tiveram filhos anões, transgêneros, criminosos, superdotados ou frutos indesejados de estupros. Ainda que saiba que esta metodologia causará alguma polêmica, Solomon é firme no posicionamento: há algo em comum entre o pai que descobre que o filho é gay e o que descobre que o filho é um assassino, pois ambos são obrigados, de uma forma ou outra, a lidar de maneira urgente com a morte de boa parte de suas expectativas.

Mas a grande riqueza de Longe da Árvore talvez esteja no tom que o autor emprega para abordar este assunto denso. Solomon não está interessado em criar uma obra que mantenha qualquer relação com a autoajuda. Não tem como objetivo confortar os leitores, nem a pretensão de idealizar os pais que passam muitas vezes por verdadeiros calvários em prol da busca de algum bem-estar a filhos com limitações muito severas. Tampouco está atrás de redenção final aos que passam por situações de sofrimento intenso, como alguma compensação divina ao estilo “os fardos só acontecem para quem é capaz de carregá-los”.

Ou seja, Solomon nos convida a vestir os sapatos destes pais e joga em nossa cara o tempo todo: o que acontece com eles poderia (e pode) muito bem acontecer a cada um de nós. É uma mensagem bastante simples e óbvia, mas também profunda, e nos confronta às opiniões e às ideias pré-concebidas que carregamos sem nos darmos conta. Pense: em que medida acreditamos que o sucesso de nossos filhos provém direta ou exclusivamente da boa educação que damos a eles? E o quanto, de alguma forma, culpabilizamos os pais pelos fracassos da prole, como o caso de um filho que se tornou um criminoso?

Solomon nos convida a vestir os sapatos destes pais e joga em nossa cara o tempo todo: o que acontece com eles poderia (e pode) muito bem acontecer a cada um de nós.

Mais uma vez, em todos esses casos, Andrew Solomon nos esclarece, sem piedade: poderia ser você na mesma situação, não importa quais sejam as suas boas intenções. Um dos momentos mais tocantes do livro, aliás, é quando o jornalista entrevista a família Klebold, pais de Dylan Klebold, um dos adolescentes que protagonizaram o famoso massacre de Columbine, em 1999, quando mataram 12 colegas de escola e um professor. A história dos Klebold é absolutamente empática, e Solomon questiona por que os meios de comunicação noticiaram na época a perda de 13 vidas, e não de 15 – o que incluiria a morte de Dylan e seu amigo Eric Harris, os assassinos – dando a entender que a tragédia que acometeu essas famílias seria menor, ou mesmo merecida.

Toda esta trama é costurada por meio de entrevistas em profundidade com pais e seus familiares, incluindo os filhos, e por meio de uma sólida investigação sobre as diversas mudanças no pensamento científico acerca de cada uma das identidades abordadas. O jornalista tece ainda considerações fortes e pessoais em relação a todos estes estudos e visões, provocando o leitor a adentrar em cada uma dessas culturas e fazendo-o refletir sobre as consequências dos avanços médicos.

Alguns exemplos de questionamentos colocados ao leitor durante o livro: em que medida os pais têm direito a investir em implantes cocleares e corrigir o “defeito” dos filhos surdos, uma vez que este defeito faz parte de uma cultura consolidada entre pessoas que não desejariam ser diferentes? Os pais surdos têm direito de esperar (e mesmo agir para isso) filhos que sejam iguais a eles? Como devem lidar os pais que têm filhos anões: buscar todas as alternativas para que eles ganhem alguns centímetros a mais, por mais que isso cause forte sofrimento físico e psíquico, ou devem apenas criá-los para a realidade de serem pessoas pequenas? Devemos proibir ou estimular que as mulheres que engravidam após serem estupradas tenham esses filhos? Com tantos avanços na pesquisa genética, a interrupção da gravidez de embriões com alguma deficiência deve ser considerada um direto legítimo ou se trata de um aborto seletivo, próximo da eugenia? Se pudéssemos aniquilar todas estas identidades horizontais, o mundo seria melhor ou pior?

Não há, obviamente, respostas fáceis e definitivas para nenhuma das questões acima, e é por isso que Longe da Árvore se torna uma obra densa e importante, ainda que profundamente incômoda. Não obstante, após todas as investigações feitas por Andrew Solomon (que, de alguma maneira, desenvolve a obra como uma espécie de auto-redenção), sobressai-se uma mensagem positiva, e que diz respeito ao amor: não importa quais as dificuldades que enfrentam, todos esses pais acham maneiras de amar esses filhos, e boa parte deles inclusive não desejaria que seus filhos tivessem sido outros.

Em uma frase impactante, Solomon resume: o amor hipotético (ou seja, o amor idealizado, voltado ao futuro, cheio de expectativas) pouco tem a ver com o amor real, aquele que se concretiza perante os fatos e a morte dos sonhos. Um livro certamente obrigatório para os dias de hoje, quando parecemos cercados de tantas certezas rasas.

Veja a palestra de Andrew Solomon no projeto TED Talks: ‘Love, no matter what’

LONGE DA ÁRVORE | Andrew Solomon

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Pedro Maia Soares / Donaldson M. Garschagen / Luiz A. de Araújo;
Tamanho: 1056 págs.;
Lançamento: Setembro, 2013.

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Tags: Andrew SolomonAnõesautismoColumbineCompanhia das Letrascriação dos filhosCriminalidadeCrítica LiteráriaDonaldson M. GarschagenJornalismoLiteraturaLonge da ÁrvoreLuiz Araújoo demonio do meio diapaternidadePedro Maia SoaresSíndrome de DownSurdez

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