A humanidade já produziu e continua produzindo uma infinidade de obras de arte, textos magníficos, músicas sensacionais, filmes esplêndidos e um sem fim de produtos culturais para o deleite alheio. Mas vivo um momento da vida no qual me basta uma pasta de fotos e vídeos dos filhos (sim, aqueles feitos com um celular meia boca e uma iluminação ruim) para horas de apreciação.
Isso não é novidade, sempre existiu a preocupação de registrar os familiares. Mas agora, o registro dos feitos, das caretas e das expressões mais engraçadinhas não está nos álbuns guardados em algum lugar da casa. Temos acesso a esses arquivos nas pastas do computador, no celular, no e-mail, nas redes sociais.
Confesso que ver e rever essas produções caseiras se transformou em um passatempo. E acredite: gastamos um tempo considerável com isso. Aquele velho clichê sobre como as crianças crescem mais rápido do que abóbora é uma grande verdade e já bate uma saudade do tempo que passou, mesmo para mim, que ainda tenho filhas bem pequenas. Passa tão rápido que a gente fica ali, como que querendo guardar o momento em uma imagem, quer manter aquela sensação boa nem que seja por meio da foto.
Registrá-los é como criar uma narrativa da primeira infância para que eles se reconheçam no futuro.
Depois que eles dormem a gente fica ali, olhando para o celular ou vendo uma pasta antiga de backup, apreciando as crias, lembrando dos momentos bons e avaliando aquilo que não foi do jeito que a gente imaginava que fosse.
Acredito que produzir esse material também será importante para o consumo das crianças no futuro. Ver uma foto de quando era criança, ouvir uma velha história sobre os tempos que passaram, saber como eram o que faziam… Registrá-los é como criar uma narrativa da primeira infância para que eles se reconheçam no futuro, já que é a fase da qual eles menos se lembrarão.
Outra faceta da facilidade de produzir fotos e vídeos sobre nossos filhos é a possibilidade de publicá-las na internet. Eu – e mais tantos pais da nossa época, mas em especial os millenials – não medimos esforços para registrar os feitos dos nossos filhos e não poupamos energia para mostrar ao mundo a beleza que nos cerca (obrigada, redes sociais).
E falar dos nossos filhos ou mostrá-los na internet é uma faca de dois gumes.
É positivo, porque aproxima familiares e amigos que moram longe e não convivem com as crianças tão frequentemente. Acho que essa interação é muito saudável porque facilita o contato e ajuda a criar uma relação, mesmo que à distância, entre as crianças e os amigos queridos e parentes distantes.
Mas ao mesmo tempo é ruim, porque sabemos que o que está disponível na internet é como se estivesse em uma grande praça pública. Ainda não sabemos o que essas crianças pensarão, no futuro, sobre o que postamos sobre elas quando eram pequenas. Além disso, há a questão da segurança, pois fotos em modo público podem ser usadas para os fins mais perversos.
Com os devidos cuidados, é mais bom do que ruim mostrar fotos dos filhos. E é claro que digo isso porque sou a típica mãe-felícia que não consegue evitar a prática de encher as timelines alheias com registros das crias.
Contudo, fique atento:
– Não poste fotos de momentos íntimos, como o banho ou a criança só de fraldas. É assustador, mas essas fotos ingênuas podem alimentar redes de pedofilia.
– Não poste fotos que mostrem o cotidiano da criança, como foto com uniforme da escola.
– Não poste fotos das quais seu filho pode se envergonhar no futuro.
– Com cerca de 4 anos, a criança já entende muito, então desde sempre crie o hábito de perguntar se pode ou não postar algo sobre ela.
– Restrinja as publicações para que elas alcancem apenas as pessoas em quem você confia, jamais publique em modo público.
– Se você vai postar fotos dos filhos dos outros, pergunte sempre aos pais se pode ou não publicar.