Assistir a uma mostra de um programa de residência é como chegar no fim a uma festa e saber pelos olhares que se perdeu o principal. Por 3 meses, 9 artistas foram orientados no espaço La Bamba em projetos pessoais (bem pessoais), e apresentaram uma “cereja do bolo” dentro da mostra 20minutos.mov. Muito mais deve ter acontecido dentro e fora daquelas quatro paredes.
Em meio ao grupo, Patrícia Saravy arriscou-se na cena solo Exodus: perfo da flor, com criação e dramaturgia próprias. Risco, porque um trabalho que se assina sozinho é algo como debutar para a maturidade artística, com muita exposição e responsabilidade.
Na cena, Patrícia mescla o que parecem ser questões muito pessoais, de suas origens, crenças e gritos, num libelo contra todo tipo de agressão. O que chama a atenção é a forma despretensiosa em que a artista principia, não exatamente numa conversa, mas com uma orientação ao público, estabelecendo “combinados”, como por exemplo quem vai cuidar do relógio, e demonstrando os objetos da sala que fazem parte de sua cena.
Séria, extremamente séria, é como ela dá indícios do que está por vir.
O que é ser mulher? E mãe? Dar à luz homens e mulheres. Flores: Patrícia exibe um vídeo de vários minutos em que dá à luz flores.
Porque aos poucos, o que poderia parecer um passatempo, talvez inócuo, se transforma numa experiência radical de exposição e provocação.
É com o rosto em aparente coragem que oferece o toque de sua pele. E com aparente dor recebe o toque da língua. Um grito de socorro pela difícil existência – não só dela, não só da mulher, mas de todos nós.
Nos adereços que utiliza, parece provocar sobre o que é nascer no Brasil profundo. Alguns elementos do animalesco vêm em auxílio à exposição do humano que ela está por propiciar. Onde é sua parte mais íntima? Seu coração? Ou a vagina?
O que é ser mulher? E mãe? Dar à luz homens e mulheres. Flores: Patrícia exibe um vídeo de vários minutos em que dá à luz flores.
Ela se coloca em sua performance completamente nua, mas não no sentido de tirar a roupa. Uma boa dose de agressividade acompanha essa exposição. Só que sua postura, a presença em cena, escondem com habilidade sua intimidade – pode soar irônico.
Apesar de vermos uma fotografia de criança na parede e de ouvir um relato de agressão em sua infância, quem é ela? Saímos extremamente íntimos, mas sem conhecer nada dela.
Séria, Patrícia parece falar da ausência de paz em sua formalidade, que transborda para a cena, impedindo qualquer murmúrio. Silêncio para compartilhar.