Creio que nem Disjointed, a sitcom “original Netflix” estrelada por Kathy Bates, recebeu tantas críticas negativas quanto Haters Back Off. Há nisto uma análise interessante e que passou à margem de boa parte dos veículos especializados. A série estrelada pela youtuber Colleen Ballinger fez, em sua primeira temporada, um humor inteligente, porém diferente do que estamos acostumados, mesmo nesta Era do Streaming. Com a liberdade trazida da internet, um enorme papel em branco que a tudo aceita, o seriado cria um choque às mentes não acostumadas ao tipo de humor produzido no YouTube.
Enquanto o Porta dos Fundos emula na internet o humor trazido da televisão, a personagem Miranda Sings era algo muito novo para o meio – e que ganhava o obstáculo criado pelo preconceito com os youtubers. A opção feita, então, por Colleen e a equipe de produção de Haters Back Off foi justamente criar uma trama que lançava um olhar crítico às subcelebridades da internet, ao passo que também escanecia os detratores da rede social. Para isso, fez de Miranda uma espécie de anti-heroína, capaz de fazer rir na mesma medida que causava repulsa no público.
Surgiu assim uma série interessante, mas que teria um enorme desafio à frente: seguir fazendo humor inteligente e, concomitantemente, desconstruir a opinião negativa da crítica especializada. Acontece que nem Colleen Ballinger nem Miranda Sings estavam preparadas para a segunda temporada de Haters Back Off, liberada pela Netflix no último dia 20. Apelando para um humor genérico, a série deixou de lado a tentativa de estabelecer um diálogo com seu público para, simplesmente, fazer uma temporada que tentou repetir fórmulas, porém sem êxito. E pior: resvalou em uma abordagem moralista.
Surgiu assim uma série interessante, mas que teria um enorme desafio à frente: seguir fazendo humor inteligente e, concomitantemente, desconstruir a opinião negativa da crítica especializada.
A temporada inicia exatamente no ponto em que fomos deixados no episódio final do ano anterior: Miranda está sozinha, abandonada por todos, ainda que seu vídeo em que dá uma aula de canto tenha viralizado. Tio Jim, rejeitado por Miranda, sumiu; Tio Jim (Steve Little), rejeitado como empresário por Miranda, decidiu ir embora; Bethany (Angela Kinsey) deixou as filhas ao descobrir que sua saúde ia mal e partiu em busca de viver uma vida em que ela fosse o centro; Emily (Francesca Reale) partiu para morar com o pai; e Patrick (Erik Stocklin) cansou de ser desprezado por Miranda e deu a entender que seguiria com sua vida. Tudo impressão.
Com a viralização do vídeo no YouTube, Miranda foi alçada à fama instantânea, ainda que vista pelo público como um personagem e não através do reconhecimento de seu pretenso talento, como ela gostaria. Com isso, ela e o tio Jim decidem criar um novo plano de 5 metas, obviamente absurdas, para dar o próximo passo na trilha da fama: estrelar um espetáculo na Broadway. Não é preciso aprofundar muito para leitor entender que o esqueleto é o mesmo da primeira temporada, apenas com uma sensível mudança: não há mais espaço a um humor refinado, apenas Miranda se torna mais insuportável e as situações deixam de ser um inverossímil engraçado para exigirem uma suspensão da descrença que é impossível ser mantida ao longo dos oito episódios.
Nem mesmo a entrada de Matt Besser como Kelly, pai de Miranda e Emily, que ainda não se divorciou de Bethany e vive tentando encontrar alguma maneira de fazer com que as filhas e seus possíveis talentos lhe tragam algum retorno financeiro, já que ele não nutre qualquer espécie de sentimento por elas, como faz questão de ressaltar em vários episódios, deu fôlego à nova temporada.
Com um produto interessante em mãos, Haters Back Off perdeu a chance de seguir aproveitando a liberdade que estar em um serviço que ganhou corpo com a internet lhe oferecia. Pode não parecer, mas com isso perdemos todos.