O primeiro Brinquedo Assassino (1988) completa 30 anos em 2018. Mesmo que tenha lá seus defeitos, a obra tem uma importância histórica por [highlight color=”yellow”]ajudar a sedimentar o imaginário ocidental sobre brinquedos assassinos e, de quebra, dar vida a um dos personagens mais importantes do cinema de horror contemporâneo[/highlight]: o boneco Chucky, a encarnação do assassino Charles Lee Ray.
Revisitar o filme original, dirigido por Tom Holland, é observar como a saga, que ganhou este ano o sétimo capítulo com O Culto de Chucky (2017), foi construída sem grandes pretensões. A trama começa com uma perseguição policial, entre o detetive Mike Norris (Chris Sarandon) e o estrangulador Charles Lee Ray (Brad Dourif). Alvejado pelo inimigo, o assassino balbucia que precisa encontrar desesperadamente uma pessoa. Acha um boneco, no qual inicia um ritual que termina com a queda de um raio e uma grande explosão.
Nos últimos anos, Don Mancini tentou levar sua criação novamente para o lado mais sério, com A Maldição de Chucky (2013) e O Culto de Chucky.
Se não fosse por esses primeiros minutos introdutórios, o público provavelmente passaria boa parte da projeção imaginando que o jovem Andy Barclay (Alex Vincent) realmente está inventando que conversa com o boneco. Quem sabe até seja o responsável pela morte de sua babá. O suspense construído pelo roteiro de Don Mancini, que mais tarde levaria a série para outros terrenos, ajuda a reforçar a surpresa da revelação do boneco, cujos efeitos visuais continuam impressionantes.
Quando mexe a boca, esbraveja contra suas vítimas e tenta invocar uma entidade espiritual para transferir sua alma ao corpo de Andy, o boneco efetivamente parece ter vida. Ainda que os gestos sejam mecânicos, [highlight color=”yellow”]seus movimentos condizem com o de um ser inanimado e inarticulado que ganha vida.[/highlight]
A estrutura da história do primeiro filme se parece bastante com a obra anterior de Holland, A Hora do Espanto (1985). Ao invés de um vampiro, o protagonista é perseguido por um boneco assassino e é desacreditado por todos ao seu redor. O jogo de gato e rato acaba dentro de uma casa, com o vilão em chamas.
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Em entrevistas, Mancini disse que se inspirou no episódio “Living Doll” da série Além da Imaginação. O próprio Brinquedo Assassino gerou inúmeras obras semelhantes com a mesma temática. As mais famosas talvez sejam as séries Brinquedos Diabólicos (1992) e O Mestre do Brinquedos (1989), produzidas pela Full Moon Pictures. Nesses títulos, a trama parece brincar com a ideia de inocência atribuída aos bonecos.
Sempre achei que filmes sobre brinquedos assassinos dialogassem com a mania (um pouco macabra) das crianças de imaginarem bonecos e bonecas com algum tipo de vida. Em Toy Story (1995), isso é representado por seres benevolentes e devotados. Aqui, por uma criatura cruel e sádica, revoltada com a própria condição de objeto. A jornada mais recente nessa viagem talvez seja a de Annabelle (2014 e 2017), boneca possuída por uma entidade demoníaca que tenta se passar pelo espírito de uma inocente menina.
Chucky virou também um ícone do humor, mas pouco disso aparece na trilogia original. O aspecto escrachado do personagem seria mais explorado em A Noiva de Chucky (1998) e O Filho de Chucky (2004). Nos últimos anos, Mancini tentou levar sua criação novamente para o lado mais sério, com A Maldição de Chucky (2013) e O Culto de Chucky. [highlight color=”yellow”]Embora toda a série seja bem divertida, ela nunca conseguiu recuperar o impacto do primeiro filme[/highlight], que queria apenas mostrar como uma criança que coloca emoção demais em um brinquedo pode acabar criando um monstro.