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Micheliny Verunschk investiga as raízes da violência no Brasil

Em 'Aqui, no coração do inferno', escritora pernambucana Micheliny Verunschk aponta para o Estado repressor.

porMarilia Kubota
20 de fevereiro de 2018
em Literatura
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Micheliny Verunschk investiga as raízes da violência no Brasil

Imagem: Reprodução.

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Aqui, no coração do inferno (Patuá, 2016), de Micheliny Verunschk, é uma novela que discute, num universo restrito, as raízes da violência no Brasil. É a primeira narrativa de uma trilogia, que já tem lançada sua sequência, O peso do coração de um homem (Patuá, 2017). Nas duas obras, conhecemos um poucos sobre a vida de dois  adolescentes que vivem em realidades opostas.

Na obra inaugural, a jovem Laura é posta à frente de um infrator, na cozinha de sua casa. Filha de um delegado, seu imaginário é povoado por histórias em quadrinhos americanas e com a descoberta da sexualidade. A prisão do menino leva para dentro da casa da garota a discussão sobre linchamento e o questionamento sobre os aparatos de segurança no Brasil.

Além de Laura, o delegado tem outra filha mais velha e uma nova esposa. A rebeldia da irmã incita a protagonista a buscar a verdade além das aparências. Ela remexe gavetas e arquivos, à busca de pistas para desvendar o trabalho do pai. Para os leitores, não restam dúvidas de como e para quem o delegado trabalha:

“Um corredor polonês é como um linchamento, colocam a pessoa pra correr nua entre duas fileiras de gente e enchem ela de porrada. Se a pessoa escapa viva, teve sorte. E essa sorte é o que diferencia o corredor polonês de um linchamento, porque desse não se sai pra contar a história. Um subversivo, ele contou, é diferente de um terrorista. Embora os terroristas sejam também subversivos. Um subversivo é um perturbador. Ele sorrateiramente coloca ideias contra a ordem, contra a autoridade, contra quem nos protege, como a polícia e o governo. Os terroristas são armas humanas que os subversivos usam quando suas ideias não são acatadas. Foi isso que papai ensinou pra gente.” (Página 44)

Na obra inaugural, a jovem Laura é posta à frente de um infrator, na cozinha de sua casa. Filha de um delegado, seu imaginário é povoado por histórias em quadrinhos americanas e com a descoberta da sexualidade.

O imaginário da garota é fragmentado por informações que recebe, na escola, em casa e dos livros que lê. A menina é leitora de Clarice Lispector e compara a situação do garoto preso na cozinha com a de uma galinha. Cita o conto “Uma galinha”, para aludir ao pequeno poder do delegado:

“Foi Clarice Lispector quem escreveu isso aí. Isso da galinha de domingo. Era como eu via o menino na nossa cozinha, encolhido, sem anseio. Tenho certeza de que papai, se pudesse, e se soubesse direitinho quem eu sou, cortaria minhas asas, como ensaia cortar as asas da minha irmã. E eu entendo ela querer ir embora daqui. Só não entendo que me deixe para trás.” (Página 82)

Desde o início, percebe-se que o inferno não é só onde moram os outros. Também pode estar no quintal, ou na cozinha. E o maior crime não é do bandido pego. Laura se vinga, sabotando os planos do pai. Em vez de rebeldia explícita, a arma que escolhe para se livrar de seu inferno doméstico é a sabotagem.

“Papai, na maioria das vezes, não tem humor nenhum. A gente tem que rir de algumas coisas no meio disto tudo. Se a gente vive nessa cidade e num mundo em que livros são queimados, pessoas perdem suas identidades e pequenos tubarões precisam garantir sua comida desde antes de nascer, putalamierda, é preciso rir um pouco. Ou ser otimista.” (página 90)

A novela é um inventário de indícios sobre raízes da violência social. O desenho final faz refletir sobre a vigência da máquina do Estado brasileiro, constituída durante a ditadura militar para reprimir subversivos e terroristas. Que, na verdade, eram as vozes oposicionistas ao regime. A investigação seguirá no segundo volume da trilogia, esmiuçando a vida do jovem infrator.

Micheliny Verunschk é autora do romance Nossa Teresa – vida e morte de uma santa suicida, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura de melhor romance de 2015 na categoria autor estreante acima de 40 anos. Também é autora dos livros Geografia Íntima do Deserto (Landy, 2003), O observador e o nada (Edições Bagaço, 2003), A cartografia da noite (Lumme editor, 2010) e b de bruxa (Mariposa Cartonera, 2014). Foi finalista, em 2004, ao Prêmio Portugal Telecom com o livro Geografia Íntima do Deserto. É doutora em Comunicação e Semiótica e Mestre em Literatura e Crítica Literária, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

AQUI, NO CORAÇÃO DO INFERNO | Micheliny Verunschk

Editora: Patuá;
Tamanho: 125 págs.;
Lançamento: Julho, 2016.

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Tags: Aqui no coração do infernoCrítica LiteráriaDitadura MilitarEditora PatuáLiteraturaLiteratura Brasileira ContemporâneaMicheliny VerunschkNossa teresa - Vida e Morte de uma Santa SuicidaResenhaViolência

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