O longa Com Amor, Simon é um filme importante. Adaptação do livro Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens, da escritora Becky Albertalli, publicado no Brasil pela editora Intrínseca, é, na superfície, mais uma comédia dramática sobre as dores existenciais da adolescência, de olho no público jovem. Acontece que a produção, um filme de estúdio, lançado nos Estados Unidos em grande circuito (cerca de 2.400 telas), tem como personagem-título um garoto gay de 16 anos, para quem a homossexualidade não é um bicho de sete cabeças. Ele compreende o que sente, e se aceita, mas tem medo de como os que o cercam vão reagir quando souberem a sua verdade.
Simon (Nick Robinson, em ótima atuação) conhece, por meio do blog da escola onde estuda, um internauta de codinome “Blue” e com ele começa a trocar mensagens. Descobre que compartilham algo muito significativo: a sexualidade ainda não revelada. Os problemas se iniciam quando um dos e-mails cai nas mãos de Martin (Logan Miller), que começa a chantageá-lo. Receoso, Simon cede, com a intenção de preservar sua privacidade e o anonimato de Blue. O protagonista conta com o apoio de Leah (Katherine Langford, a Hannah de 13 Reasons Why), sua melhor amiga e confidente.
Simon jamais é retratado como uma vítima, um prisioneiro de sua sexualidade.
É interessante observar que Com Amor, Simon, de caso pensado, se assemelha muito a (bons) filmes de adolescentes das décadas de 1980 (como Clube dos Cinco) e 90 (As Patricinhas de Beverly Hills), com generosas doses de comentários sociais, mas sem procurar fugir das convenções da comédia romântica clássica, mainstream. Mesmo lidando com um assunto delicado, supostamente “não comercial”, a trama é abordada com uma linguagem que pode atingir vários públicos. Tanto que alcançou mais de US$ 11 milhões de bilheteria em seu fim de semana de estreia.
Simon jamais é retratado como uma vítima, um prisioneiro de sua sexualidade. Ele a mantém em segredo por escolha e tem consciência de que a hora certa para sair do armário chegará. O filme tem muito pouco a ver com aceitar-se. É muito mais sobre o processo de tornar público o que ele já sabe sobre si próprio, sua relação com o mundo e a família – Jennifer Garner e Josh Duhamel estão ótimos como seus pais. E, é claro, a descoberta do amor.
Solar, Com Amor, Simon tem cores quentes e explora muito bem as emoções dos personagens com um roteiro bem alinhavado que esbanja autenticidade. A direção de Greg Berlanti, de O Clube dos Corações Partidos, é sensível e explora muito bem os planos fechados e os closes, para nos colocarmos muito próximos dos personagens. O resultado é um filme despretensioso e delicado, que esbanja humanidade.
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