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‘A Visita Cruel do Tempo’: sobre o tempo

Em 'A Visita Cruel do Tempo', Jennifer Egan esboça o cenário da indústria fonográfica para construir um romance no qual o que está em discussão é o tempo.

porAnna Carolina Azevedo
4 de maio de 2015
em Literatura
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'A Visita Cruel do Tempo': sobre o tempo

Jennifer Egan. Imagem: Pieter M. van Hattem/Vistalux.

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“É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?”

Assim Jennifer Egan dá início a uma narrativa sobre o correr do tempo em seus aspectos mais dolorosos. Não à toa vencedor do Prêmio Pulitzer de Literatura em 2011, A Visita Cruel do Tempo é pungente da epígrafe ao último capítulo. E convida o leitor a atravessar um labirinto, no qual a passagem dos anos é o fio-condutor de sua rede de tramas. Publicado no Brasil pela Intrínseca, o livro alterna fluxos de consciência de diferentes personagens, entrelaçados das maneiras mais inesperadas – ou insanas. Em uma narrativa não-linear de tempo e espaço, a divisão dos capítulos mostra-se imprevisível, reservando a nós a tarefa de decifrar suas possíveis vozes.

As histórias revelam-se em torno das relações, diretas ou indiretas, com os personagens Bennie Salazar e Sasha Grady – no presente do indicativo da trama, um bam-bam-bam da indústria da música nos Estados Unidos e sua assistente. O mercado fonográfico norte-americano e o declínio de astros e bandas, porém, são apenas o pano de fundo para o principal tema do livro: as frustrações entre as expectativas criadas ao longo da vida e aquilo que, de fato, se concretiza. Para uma geração dantes utópica e hoje decadente, o tempo mano velho não corre macio.

Embora a composição polifônica seja um de seus pontos fortes, não é isso que separa A Visita Cruel do Tempo de outras obras contemporâneas.

Quando dei início à leitura do romance (indicada pela mediadora e grande parceira Daniele Rosa), tive a sensação de que a história de Sasha Grady, apresentada como uma mulher na tentativa de resolver um distúrbio cleptomaníaco, era secundária à trama principal. A aparição triunfal de Bennie Salazar no capítulo seguinte fez com que eu endossasse essa expectativa, cogitando que o protagonismo estaria reservado a ele – um tipo pra lá de excêntrico (o cidadão come ouro, literalmente). Só que é a partir da história dos dois, Sasha e Bennie, que se edifica  A Visita Cruel do Tempo. E mais: o que se percebe ao decorrer das 335 páginas é que, embora a história de Bennie seja mais extensa, a vida de Sasha é explorada de uma maneira mais densa, fazendo dela a protagonista da história (ops, acho que isso foi um spoiler!). Por isso, não me parece à toa que o livro tenha início com o foco sobre os dramas dessa personagem.

Embora a composição polifônica, labiríntica ou “caleidoscópica” – como cravou artigo publicado na “Ilustrada” da Folha de S. Paulo (leia aqui) – seja um de seus pontos fortes, não é isso que separa A Visita Cruel do Tempo de outras obras contemporâneas. Chama a atenção, por exemplo, o capítulo narrado por um personagem que você descobre, adiante, estar morto (deixarei de nomeá-lo para não revelar outro spoiler). É bem verdade que Machado de Assis já fez isso no século retrasado, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, uma obra revolucionária na história da literatura brasileira. Bom, isso lá em 1881, não em 2010, ano de publicação de A Visita nos Estados Unidos; isso lá no auge do realismo, não em um momento literário em que, diante de tanta coisa já inventada, parece não haver mais como inovar. Apesar de que eu acho que se Machado estivesse vivo, certamente bolaria mil outras maneiras de permanecer à frente de seu tempo. Já imaginou, por exemplo, um Machadão graffiteiro? Eu já. (Ou você não se lembra de que Capitu, em Dom Casmurro, estragou o reboco de um muro graf(fit)ando a inscrição “BENTO CAPITOLINA”? Ora, a mais pura manifestação de arte/intervenção urbana. E olha que estamos falando do Rio de Janeiro de século XIX! Capitu: oblíqua, dissimulada e wall writer, no melhor estilo Banksy).

Abstrações – ou “inquietas sombras” – à parte, a grande inovação de A Visita Cruel do Tempo está no capítulo “Grandes Pausas do Rock and Roll”, que apresenta o viés da garota Alison Blake, filha de Sasha. Em vez de se valer do texto disposto em prosa, Jennifer Egan resolve surpreender o leitor com gráficos formatados em slides de Power Point, repletos de referências à família de Alison e a vários artistas do rock mundial. Jimi Hendrix, Led Zeppelin e David Bowie estão lá – bem como as pausas intermináveis de suas canções (ouça os links!). Chega a ser revoltante de tão criativo. O capítulo, por si só, já justificaria a leitura do livro, mesmo que ele não se resuma apenas a isso, que fique bem claro.

Por fim, é inevitável deixar de traçar um paralelo, mesmo que sutil, com Em Busca do Tempo Perdido. Tal qual a obra-prima de Marcel Proust, os personagens de Jennifer Egan parecem estar em constante busca de um tempo que não mais volta – daí a sua “crueldade”. Não há como negar o diálogo com Proust, presente desde a citação de um excerto do escritor logo no início do romance. No entanto, penso que seria ingênuo definir A Visita Cruel do Tempo como uma releitura moderna.

Neste mês de maio, por sinal, o clube de leitura O Bairro dará início às discussões de No Caminho de Swann, primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido. Para quem não conhece, um clube de leitura se estabelece na seguinte dinâmica: primeiro, é proposta a fruição prévia de uma determinada obra; a seguir, é realizado um encontro presencial em que um mediador apresenta alguns tópicos de leitura e acolhe os comentários dos participantes, incentivando o debate durante todo o processo. Enfim, uma experiência bastante válida para o leitor. Em seu terceiro ciclo, denominado “Temporalidade e Fluxo de Consciência”, o clube irá propor a discussão não apenas de Proust, como também de James Joyce e do grande Guimarães Rosa com seu Grande Sertão: Veredas, entre outros autores.

Eu, com certeza, estarei por lá. E você? Que tal iniciar a leitura de A Visita Cruel do Tempo e participar simultaneamente do clube de leitura? #ficadica #partiu

O contra desta capa representa uma bravata: leia mais; ocupe espaços culturais; empodere-se de sua cidade.

A VISITA CRUEL DO TEMPO | Jennifer Egan

Editora: Intrínseca;
Tradução: Fernanda Abreu;
Tamanho: 336 págs.;
Lançamento: Janeiro, 2012.

Compre o livro e ajude a Escotilha

Tags: A Visita Cruel do TempoBennie SalazarClube de Leitura O BairroCríticaDesafio dos 50 livrosEm busca do tempo perdidoJennifer EganLiteraturaMachado de AssisMarcel ProustMemórias Póstumas de Brás CubasPower PointPulitzerSasha Grady

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