• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Cinema

‘Violência Gratuita’ é o retrato de uma sociedade inerte

Tornando o espectador praticamente um personagem, o provocativo longa de Michael Haneke, 'Violência Gratuita', é um chamado brutal para ação.

porBernardo Vasques
9 de junho de 2018
em Cinema
A A
'Violência Gratuita' é o retrato de uma sociedade inerte

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Ao longo de sua carreira, Michael Haneke se tornou conhecido por abordar, de forma crua e contundente, a violência. Muitas vezes rotulado como um diretor trágico, o austríaco não hesita em retratar brutalidades a fim de expor sua visão de mundo, muitas vezes sendo distópico e pessimista. Em Violência Gratuita, de 1997, Haneke vai além de apenas escancarar a crueldade das pessoas. Ele afirma que a culpa de tudo isso é, também, de quem assiste.

O longa conta a história da família Schober, que vai passar uns dias de suas férias em sua elegante casa à beira de um lago, na Áustria. São eles três: Georg (Ulrich Mühe), Anna (Susanne Lothar), e o filho do casal, Schorschi (Stefan Clapzynski). Poucos minutos após chegarem à casa, são surpreendidos por dois jovens, entre 20 e 30 anos, vestidos de branco e utilizando luvas. Peter (Frank Giering) e Paul (Arno Frisch), se apresentam como ajudantes de uma família vizinha, mas logo se mostram sádicos criminosos, que aprisionam os Schobers dentro de sua própria casa e estabelecem uma condição: apostam que, dentro de doze horas, a família estará morta.

Desde o início, Haneke coloca o espectador em posição de avaliar as atitudes da dupla, e, caso julgue necessário, tomar uma atitude. Em uma discussão entre Anna e os “sequestradores”, ainda antes do enclausuramento, Georg chega para intervir, sem saber o que houve. “Eu não posso ser o juiz de algo que eu não vi acontecendo”, afirma. Ele não, mas o espectador pode, e se manteve inerte. Para o diretor, isso é uma deixa.

Rotulando como conivência o fato de o espectador estar do outro lado e não poder agir, Haneke é provocativo ao, gradualmente, quebrar a quarta parede e colocar os criminosos frequentemente interagindo com quem assiste. Uma piscada de Paul diretamente para a câmera, logo que Anna encontra o cadáver de seu cachorro, recém-assassinado, é a mensagem: “Você não fez nada até aqui, está do nosso lado então?”.

Violência Gratuita é, à sua maneira, um chamado à autocrítica. O longa de Haneke diz que, se o mundo é desse jeito, sádico e violento, é porque deixamos chegar a esse ponto.

Isso faz com que o cineasta tenha a total liberdade de colocar a câmera quase sempre na perspectiva de Paul e Peter, fazendo do espectador, praticamente um mediador. Isto é, alguém com a capacidade de analisar e julgar a brutalidade do crime, o sadismo envolvido e como tudo é feito de maneira fria. Sendo assim, Haneke testa o público a todo momento. Na mesma sequência em que Paul olha para a câmera e pergunta “Você está do lado deles?”, há um plano de Peter apontando um rifle para a família. É uma das oportunidades que o diretor dá ao espectador de responder a pergunta: “Se realmente está, coloque-se entre a arma e eles!”.

Totalmente inertes e coniventes, nos tornamos, praticamente, um terceiro elemento da gangue – Georg, inclusive, sutilmente olha para a câmera em um momento de diálogo com os criminosos -, o que permite que, de forma estarrecedora, a violência se intensifique. “Poderiam pelo menos deixar a criança viva”, pensa o espectador. Pensou errado, Schorschi é o primeiro a morrer.

Entretanto, Haneke insiste na possibilidade de ação vinda do outro lado da tela, e nos dá a última chance: um plano de onze minutos de, basicamente, uma mulher em letargia em frente ao cadáver de seu filho, e um homem, com a perna quebrada, agonizando. Mesmo assim, o casal tira forças sabe-se lá de onde, levanta e tenta procurar ajuda. “Se você, que está aí, em plenas condições, deixou isso acontecer, você não vai ter o final que você quer”. Só faltou surgir, no meio do filme, um áudio com a voz de Michael Haneke dizendo essas palavras.

Se o áudio não veio, o visual é claro. Michael Haneke vai utilizar o recurso que puder para tomar de assalto do espectador o final feliz que tanto deseja. Mesmo que o recurso seja o clique de um controle remoto, que retrocede o filme quando Anna consegue pegar o rifle e atirar em Peter. O filme, em diversos momentos, brinca com o fato de ser um filme, brilhantemente ironizando a ânsia e o narcoticismo de finais felizes

Violência Gratuita é, à sua maneira, um chamado à autocrítica. O longa de Haneke diz que, se o mundo é desse jeito, sádico e violento, é porque deixamos chegar a esse ponto. Com engenhosa condução do seu diretor e excelente uso de metalinguagem, o filme deixa o recado: se não podemos mudar o que acontece no filme, pelo menos tentemos melhorar a situação à nossa volta.

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: Arno FirschCinemaCríticaCrítica CinematográficaFilm ReviewFrank GieringFunny GamesMichael HanekeMovie ReviewResenhaReviewSusanne LotharUlrich MüheViolência Gratuita

VEJA TAMBÉM

Imagem: Reprodução.
Cinema

Na 49ª Mostra Internacional de Cinema, São Paulo volta a ser capital mundial das imagens

15 de outubro de 2025
'O Último Episódio': angústia adolescente. Imagem: Filmes de Plástico / Divulgação.
Cinema

‘O Último Episódio’ aposta na nostalgia para falar sobre as dores do crescimento

9 de outubro de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Charlie Sheen hoje, aos 60 anos. Imagem: Boardwalk Pictures / Divulgação.

‘Aka Charlie Sheen’ é um contundente relato sobre a decadência de uma estrela

24 de outubro de 2025
Francês virou sensação no Brasil com suas obras autobiográficas. Imagem: Laura Stevens / Modds / Reprodução.

Édouard Louis e a escrita como forma de fuga e enfrentamento

23 de outubro de 2025
Ellen Pompeo protagoniza minissérie produzida pelo Hulu. Imagem: Disney / Divulgação.

Inquietante, ‘Uma Família Perfeita’ evidencia o abismo entre aparência e verdade

22 de outubro de 2025
'Frankito em Chamas' é a primeira obra do autor publicada pela Todavia. Imagem: Carolina Vicentini / Divulgação.

‘Frankito em Chamas’: o romance inesperado de Matheus Borges que flerta com David Lynch

20 de outubro de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.