É a voz de Selma, avó do músico aracajuano Lau, que abre o disco recém-lançado do seu projeto, a banda Lau e Eu. Há mais ou menos um ano, ele precisou a deixar, assim como sua terra natal, para tentar viver da música em São Paulo. “Mesmo triste com a minha partida, ela é uma das pessoas que mais me apoiam. Por isso dei seu nome ao disco. ‘Selma’ significa também proteção em germânico”, explica o artista no texto de divulgação. Uma mudança de cidade que iniciou um processo permeado por descobertas e dificuldades, que, por fim, resultaram nas músicas que agora integram o primeiro álbum do grupo.
Composto por nove faixas, Selma é um retrato pessoal de quem decidiu se lançar completamente sozinho em uma grande cidade. É nostálgico, como quem olha para o que ficou para trás, e, ao mesmo tempo, maduro e atual ao demonstrar as descobertas que vêm com a vida adulta.
Ao transformar suas experiências em canções, Lau elabora um álbum com potência poética que nos demonstra seu amadurecimento pessoal e artístico.
São canções que falam sobre a dureza de uma metrópole que se materializa, muitas vezes, em sua geografia de concreto, e dos próprios relacionamentos que ali se constroem, algumas vezes, tão duros quanto. “É um trabalho que pretende ser o mais humano, honesto e autêntico possível. Quero mostrar para as pessoas quem eu sou, o que guardo aqui dentro”, conta Lau.
O álbum sucede o EP Café Frio, lançado em 2016. Se no trabalho anterior, montado em Aracaju, o projeto tinha em evidência uma pegada da MPB mais contemporânea, em Selma está em destaque uma sonoridade fortemente marcada pelo eletrônico e pelo experimentalismo, com referências do rock e de uma MPB dos anos 70, lembrando nomes como Jards Macalé.
Um dos destaques é a faixa “Perdizes”, música que faz um trocadilho com o bairro paulista de Perdizes, onde Lau morou em um cortiço, e com o ato de se perder. A canção inicia com batidas eletrônicas que vão se misturando, progressivamente, ao som marcante do baixo para encerrar com as rimas do rapper baiano GALF. Um movimento que assinala um dos pontos fortes do disco, que é misturar linguagens sem recorrer a um caminho óbvio. Um percurso que reforça, também, o importante papel da banda que acompanha o artista (formada por Dieguito Reis, Marcelo Sanchez e Gabriel Andirá) e do trabalho de produção musical, que contou, além do próprio Lau e de Dieguito, com nomes como Léo Airplaine, Vinícius Lezo e Thiago Guerra.
Ao transformar suas experiências em canções, Lau elabora um álbum com potência poética que nos demonstra seu amadurecimento pessoal e artístico. É um trabalho autoral no melhor sentido da palavra. Em entrevista ao site Tenho Mais Discos Que Amigos, em 2016, o músico foi direto: “a receita de soar legal é não soar, só ser o que é”. Em Selma, ele nos entrega uma boa prova de que vem seguindo suas próprias palavras e está, mais do que nunca, soando como ele mesmo.
NO RADAR | Lau e Eu
Onde: Aracaju, SE; São Paulo, SP;
Quando: 2016;
Contatos: Facebook | YouTube | Instagram