A regra é clara, ainda mais em tempos de Copa do Mundo: em time que está ganhando, não se mexe. Talvez tenha sido a mesma regra que Stephen Malkmus levou à risca em seu novo álbum, mais uma vez com o The Jicks. Longe de ser uma novidade completa, o disco é exatamente aquilo que os fãs querem, mais do mesmo, mas com uma observação, que é que o mesmo de que falamos aqui é do calibre de um veterano como Malkmus.
Célebre como uma das mentes pensantes à frente do já tão incensado Pavemente, Malkmus buscava outros tipos de musicalidade quando formou a banda, e talvez ainda seja essa verve que se mantém rente à superfície de um disco como Sparkle Hard. Indiscutivelmente bom, o álbum consegue não apenas matar a sede dos fãs como oferecer um material de qualidade ímpar para os recém-chegados.
O sétimo álbum de estúdio do grupo, no entanto, possui algo que, para aqueles que passaram os anos 1990 idolatrando o Pavement, é novo. Com uma identidade musical que é muito mais centrada, um som limpo e já devidamente livre das distorções que estiveram na moda durante aquela década, Sparkle Hard é um deleite, um disco limpo, bem-amarrado, coeso e repleto de músicas que merecem figurar nas melhores playlists dos anos 10.
Sparkle Hard é um deleite, um disco limpo, bem-amarrado, coeso e repleto de músicas que merecem figurar nas melhores playlists dos anos 10.
Com uma pegada mais voltada para o presente, Malkmus nos presenteia com canções que camuflam numa atmosfera simples algumas das questões que permeiam nosso conturbado presente. Isso não apenas faz com que a banda soe muito mais atual, como faz com que o nome do artista permaneça solidamente incluso entre os mais significativos de nossa geração.
Desde a faixa de abertura, “Cast off”, uma música limpa, objetiva, é possível perceber que a tônica do conjunto será outra. Após ter abandonado o excesso e as distorções mais carregadas, mesmo as faixas que mais ecoam o antigo Pavement em seu auge soam muito mais trabalhadas. O conjunto das músicas é tão bem amarrado e coeso que chega ser difícil apontar momentos altos, apesar de “Bike Lane” e “Shiggy” serem pontos indiscutivelmente relevantes de um conjunto que prima pela qualidade.
Em tempos incertos, ouvir um álbum como esse soa quase como um consolo, uma lembrança de que, por pior que seja a situação, o ser humano ainda é capaz de produzir coisas incríveis que, por mais breves que sejam, justificam nossa estada aqui. Sparkle Hard não é apenas um carinho no coração de quem escuta, soa como se tivesse sido produzida também como fruto de um carinho por parte de quem toca. Mais um motivo para admirar Malkmus, como se fossem poucos.