Uma das formas que, a meu ver, contribuem na audição de uma nova banda é procurar por parâmetros. Que fique claro que não necessariamente parâmetros de comparação, mas um ponto de partida que seja capaz de mentalmente equalizar cada nota e timbre desprendido pelo grupo ou artista. Isto costuma tornar mais fácil o trabalho de falar sobre.
Ao me deparar com os curitibanos do This Lonely Crowd, este não foi um dos trabalhos mais fáceis. Não pela ausência de qualidade, referências ou influências. A questão aqui é justamente outra. O grupo coloca no seu trabalho um pouco de tudo que gostam, sendo capaz de nos oferecer desde shoegaze (um pouco mais pesado do que a Sonora Coisa – leia aqui), até pinceladas do metal dos anos 1970 e do post-rock mais contemporâneo.
Ouvir Möbius and The Healing Process, terceiro disco do grupo formado entre 2009 e 2010, evidencia que toda essa simbiose é justamente o que caracteriza o trabalho deles e, de certa forma, torna-os acessíveis a um grupo maior de ouvintes. “Sleepers Among Petals”, sétima das doze faixas do CD, é um diálogo incrível entre o post-grunge e rock alternativo. Não há exagero algum em dizer que a música traz à memória o Smashing Pumpkins do Mellon Collie and the Infinite Sadness.
Cyrus, Bubba, Teeth, King e White Queen (sim, nomes emprestados dos personagens de Lewis Carroll) fazem um excelente trabalho, mantendo o disco todo na mais perfeita sinergia entre técnica, peso e musicalidade. Mesmo aparentando ser o álbum mais cru do grupo, ele é também o que marca o amadurecimento da banda.
Para novos artistas, apresentar um álbum consistente logo de cara – como fizeram em Some Kind of Pareidolia (2011) e em seguida com Pervade (2012) – é um desafio imenso. Chegar ao terceiro disco soando muito melhor do que nos anteriores é não apenas digno de menção honrosa, mas a afirmação dentro do cenário independente e um grito mais que justo por atenção.
Sempre tive um apreço muito grande pelo post-rock. Passei muitas horas contemplando a sonoridade de grupos como Balmorhea, God is an Astronaut, Explosions in The Sky, From Monument to Masses e Mt. Cada um desses grupos fez e faz post-rock à sua maneira, sendo muito difícil compará-los. Há um movimento parecido ocorrendo em Curitiba. Mesmo que de forma despretensiosa, ruído/mm, Sonora Coisa e This Lonely Crowd oferecem saídas interessantes para quem procura erguer a cabeça para cima da mesmice.
Mesmo que de forma despretensiosa, ruído/mm, Sonora Coisa e This Lonely Crowd oferecem saídas interessantes para quem procura erguer a cabeça para cima da mesmice.
No caso do This Lonely Crowd, seja ao apimentar nossos ouvidos com riffs que recordam os australianos do Karnivool, acrescentando lirismo como os norte-americanos do Black Tape for a Blue Girl – e seu darkwave – ou simplesmente sendo o mais rock and roll possível em sua postura, a banda é capaz de agradar até os ouvidos mais exigentes – em especial, a turma que acha que o rock entrou em coma nos anos 1970 e faleceu nos 1980.
As temáticas trazidas pelo quinteto costumam abraçar cada peça de sua obra, com uma grande predileção ao abstrato. Com a proposta de fazer o que chamam de “música para poucos” – não por ser elitista, mas pelo pouco apreço mercadológico dado ao gênero -, o grupo pretende lançar um novo álbum este ano. E novamente apostando na prensa de algumas unidades físicas do disco.
Em entrevista ao Raro zine, o grupo disse que há nesta escolha um apelo sentimental, já que a presença física do disco funciona como um registro histórico daquele momento, que não seria suprido apenas pelo formato digital. No final das contas, resume Teeth na mesma entrevista, eles fazem “música com portas abertas para quem quiser escutar”. Você pode ouvir no Soundcloud (clique aqui) da meninada ou fazer uma força e comprar o disco no Bandcamp deles (link aqui).
A promessa do novo álbum é para agosto. Até lá, confira o Möbius and The Healing Process na íntegra.