Debates sobre a arte como pura estética e a arte política já são antigos. Há toda uma tradição que navega por essas duas vocações, atribuindo mais peso a uma ou outra dimensão da literatura. W. S. Merwin, como é comumente grafado o nome de William Stanley Merwin, é um dos mais importantes autores estadunidenses do século XX e sua poesia faz uma ponte entre o estético e o ético.
W. S. Merwin recebeu reconhecimento desde o começo de sua carreira com o livro A Mask for Janus, de 1952. Em uma época de grande formalismo, Merwin apresentou um trabalho de estreia bem executado e que chamou a atenção do grande W.H. Auden à época. Outros bons trabalhos se seguiram, ao mesmo tempo que seu país travava uma guerra no Vietnã. Merwin uniu-se aos esforços contra a guerra, como fizeram outros escritores, e foi nessa linha que seu sétimo livro foi recebido. The Lice, de 1967, é até hoje um dos trabalhos de maior repercussão do poeta e ao longo dos anos foi lido como uma resposta à Guerra do Vietnã.
A poesia de W. S. Merwin sempre demonstrou grande cuidado com a forma e riqueza em sua leitura de outros autores. Simultaneamente, à medida que se seguia a sua produção poética, ficava muito claro que todos os seus trabalhos detinham algum nível de engajamento político ou ético com o mundo. A evolução de formas clássicas até o seu hoje característico verso livre aponta para uma evolução estética. O posicionamento contrário aos movimentos bélicos dos Estados Unidos até o envolvimento das últimas décadas com o ambientalismo mostram o compromisso ético.
A poesia de W. S. Merwin sempre demonstrou grande cuidado com a forma e riqueza em sua leitura de outros autores.
A vida alimenta a arte e vice-versa, é verdade. Além de poeta, W. S. Merwin trabalha como tradutor e ao longo de sua carreira um ofício influenciou o outro. Suas traduções costumam ser muito bem recebidas e abrangem de poesia épica até literatura latinoamericana. O ativismo pacifista afetou The Lice, assim como o ativismo verde afetou obras como Migration: New and Selected Poems de 2005. Merwin viveu em diferentes cidades do Estados Unidos urbano e da Europa, mas desde 1976 mora no Havaí onde estuda e pratica o budismo e trabalha arduamente para recuperar a floresta tropical no entorno de onde mora. Vê-se a expansão do compromisso do autor com a dimensão ética da vida humana, a relação com a natureza.
Progressivamente o elogio ao natural deu lugar também para uma maior denúncia da destruição que nossa sociedade moderna opera incessantemente. Também é crescente a leitura da obra de W. S. Merwin, até mesmo em The Lice, como uma reflexão crítica sobre o homem moderno.
W. S. Merwin não trata apenas dos temas já mencionados: Merwin é um grande pensador do que significa ser norte-americano e o que é esse espaço geográfico que chamamos de Estados Unidos da América. W. S. Merwin fala de infância, de memória, morte e outros temas. O resultado é uma trajetória de vários prêmios literários, como o prestigiado National Book Award, e uma rica obra da literatura contemporânea.
Com uma carreira extremamente produtiva, com dezenas de obras publicadas, predominantemente de poesia, W. S. Merwin é um grande autor. Ainda lhe falta o devido reconhecimento pela crítica e pelo grande público no Brasil, ainda é difícil para nós termos acesso aos seus trabalhos. Mas o tipo de arte de Merwin segue extremamente relevante hoje em dia e vale o nosso esforço para lê-lo.