A colisão acidental entre um homem, Marc (Benoît Poelvoorde), e uma mulher, Sylvie (Charlotte Gainsbourg), ambos à deriva em uma noite de imenso vazio existencial, são o ponto de partida para 3 Corações. O filme parece sugerir em seu prólogo que evoluirá no sentido do romance, de uma história de amor marcada por encontros e desencontros entre o casal. E o final feliz será inevitável. Ledo engano.
O diretor Benoît Jacquot (de Adeus, Minha Rainha) vai na contramão da expectativa romântica que suas cenas iniciais podem suscitar. O casal, que passa a noite em que se conhece a falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo, encerra o encontro com uma promessa: voltar a se ver, ainda que nenhum dos dois revele seu nome, confiando na força do acaso que os reuniu naquela noite fria nas ruas de Lyon. Acontece que o reencontro, tão desejado, não ocorre, por razões que não cabe aqui revelar.
O diretor Benoît Jacquot (de Adeus, Minha Rainha) vai na contramão da expectativa romântica que suas cenas iniciais podem suscitar.
Mas o destino pode ser cruel, sobretudo porque Jacquot investe na chave do melodrama, ainda que de forma algo discreta. Ao separá-los por motivos fúteis, coloca no caminho de Marc a irmã de Sylvie, Sophie (Chiara Mastroianni, excelente), em outro acidente que, no desenrolar da trama, coloca os três personagens em uma rota complexa perigosa e, sim, folhetinesca. O mais interessante é que, durante boa parte da trama, nenhum dos envolvidos nesse triângulo tem noção de ser peça de um jogo fadado à dor.
Não fosse a elegância da direção de Jacquot, 3 Corações poderia ter resultado algo ridículo. Mas não: o filme consegue driblar essa possibilidade, que em alguns momentos parece ser uma quase certeza. O cineasta se sai bem ao manipular as expectativas do público, que é convocado a preencher lacunas que o roteiro deixa em branco, de propósito.
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