Há cinco anos, as movimentadas ruas de São Paulo se tornaram o habitat natural da Picanha de Chernobill. Formada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 2008, a banda se mudou para a capital paulista em 2013, onde mantém o projeto “Picanha na rua”, que consiste em apresentações gratuitas pelos espaços públicos da cidade. De lá para cá, mais do que simples palco para apresentação, o grupo também vem transformando a metrópole em inspiração para o seu trabalho. Um processo de troca entre público e músicos, que ganha forma no disco O Conto, a Selva e o Fim, trabalho mais recente da banda.
O álbum saiu em 2016 e é composto por 14 canções. A produção foi viabilizada através de financiamento coletivo, que contou com a participação de mais de duzentas pessoas. Neste novo registro, a Picanha de Chernobill traz como tema central a história de um trabalhador que deixa a esposa e a filha e segue em direção à cidade grande na busca por oportunidades. Um caminho semelhante ao percorrido pelo próprio grupo, mas que, no disco, é permeado por uma série de outras temáticas de cunho social, mais atuais do que nunca.
Em “Tumbeiro” e “Ilha de Vera Cruz”, eles cantam sobre escravidão e sobre exploração. Já na faixa que dá nome ao álbum, “O conto, a selva e o fim”, a banda traz uma visão sobre a filha, uma das personagens do disco, que também sai em busca de novas perspectivas. Segundo os músicos, a faixa foi escolhida para dar nome ao disco porque “representa a continuidade da luta por valores dignos da existência, os valores humanos passados de geração a geração”. Vale destaque ainda para “Anhangabablues”, uma das faixas mais marcantes do álbum e que acabou ganhando videoclipe. A música faz menção ao bairro onde os músicos residem e traz a perspectiva de pessoas que vivem nas ruas e são condenadas à margem da sociedade.
Por trás dos ótimos riffs presentes no disco, há muitas histórias e muitas mensagens, tal qual aquelas que vão e vêm pelas calçadas das grandes cidades.
Embalando todas essas canções está a sonoridade setentista que a Picanha de Chernobill vem construindo ao longo dos anos e que já foi esboçada em trabalhos anteriores, como no disco de estreia autointitulado, lançado em 2009, e, principalmente, em o O Velho e o Bar, segundo trabalho da banda, que saiu de 2011.
De lá para cá, entretanto, é inegável o salto que a banda dá em termos sonoros, fazendo uma fusão do blues com algumas boas pitadas de stoner rock. No trabalho mais recente, essa mistura se dá de maneira orgânica, fazendo com o que a audição do disco flua com naturalidade e a passagem entre as faixas seja quase imperceptível em alguns momentos. Somado a isso, há a aposta em elementos bastante interessantes, como a viola caipira, que aparece em “Sol do Novo Mundo” e vem sendo incorporada à identidade sonora da banda.
Ao escutar O Conto, a Selva e o Fim, fica evidente o quanto a Picanha de Chernobill é uma banda com algo a dizer. Por trás dos ótimos riffs presentes no disco, há muitas histórias e muitas mensagens, tal qual aquelas que vão e vêm pelas calçadas das grandes cidades. É um trabalho que verdadeiramente dialoga com o lugar em que está inserido. “A rua é assim: não é a busca do artista pelo público, nem do público pelo artista. É ambos em um encontro marcado com a cultura num certo ponto em comum da cidade. Nunca algo rotineiro – cada vez é uma surpresa”, resume o vocalista e baixista Matheus Mendes. A dica, então, é para manter olhos e ouvidos abertos para essas surpresas que surgem por aí e também para viajar um pouco por elas através do som da Picanha.
NO RADAR | Picanha de Chernobill
Onde: Porto Alegre, RS; São Paulo, SP.
Quando: 2008.
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