Quando discutiam as influências na concepção do seriado Lost, Carlton Cuse, Damon Lindelof e J.J. Abrams frequentemente citavam Stephen King. O trio revelou inúmeras vezes que o tratamento dado aos personagens de A Dança da Morte, obra-prima do autor publicada em 1978, era uma enorme fonte de inspiração para a maneira como os sobreviventes do Voo 815 da Oceanic Airlines iriam interagir e lidar com seus próprios passados.
Em 2006, o grupo de roteiristas finalmente conheceu o Mestre do Horror, que havia se declarado fã da série na imprensa – inclusive colaborando com teorias sobre o que efetivamente ocorria dentro da ilha. No encontro, que foi acompanhado por um repórter da Entertainment Weekly (leia mais), o grupo debateu o processo de criação e as estratégias adotadas para se construir uma história.
Entre as curiosidades reveladas pelo texto está o fato de que Lost nunca foi muito planejada além das primeiras temporadas. Algo parecido com o que ocorreu com a série literária A Torre Negra, de King. Os roteiristas sabiam apenas um pouco do passado dos personagens e criaram uma rede de elementos misteriosos que mantinham a atenção do público. Não é por acaso que muita gente acha o final do programa meio frustrante por levantar mais dúvidas do que entregar respostas.
É curioso notar que após esse encontro, os rumos de Lost ficaram bastante próximos do que o da saga do pistoleiro Roland Deschain. Ainda que seja apenas uma coincidência, o que parece difícil, Cuse, Abrams e Lindelof alteraram bastante a essência do programa. O que era para ser uma história de ficção científica vira uma fantasia sobre viagens no tempo, seres ancestrais e dimensões de vida após a morte.
É possível que por influência de Stephen King, que havia acabado de terminar sua série literária, Lost tenha virado um programa que não se preocupa muito em amarrar todas as suas pontas soltas.
Como um leitor recente dos livros de A Torre Negra, consigo pensar em diversas aproximações iconográficas e simbólicas entre as duas narrativas: a presença de ursos como guardiões/experimentos de uma civilização passada; a tecnologia antiga presente na terra que as pessoas deixaram de saber como funciona; e o fato de haver uma fonte de energia que precisa ser preservada do ataque de um homem de preto; entre outras.
É possível que por influência de Stephen King, que havia acabado de terminar sua série literária, Lost tenha virado um programa que não se preocupa muito em amarrar todas as suas pontas soltas. A jornada dos personagens interessa muito mais do que os segredos da trama – que servem apenas para segurar a audiência.
Abrams voltou a referenciar o universo do Mestre do Horror de forma mais direta neste ano, com Castle Rock, seriado do serviço de streaming Hulu. A narrativa empresta a atmosfera de mistério de Lost e a ambienta em um cenário habitado por personagens e situações vistas nos livros de King. Além de ser um grande fan service para os leitores familiarizados com o trabalho do romancista, o novo seriado também aposta em demasia nas reviravoltas narrativas. Talvez seja a maneira do produtor dar um crédito mais efetivo ao autor, que pode ter ajudado a resolver os problemas originais do enredo sobre pessoas perdidas em uma ilha.