Aos 26 anos de idade, Lúcio da Silva Souza, o SILVA, é um dos principais nomes da música brasileira. Com dois discos gravados – Claridão (2012, considerado um dos melhores daquele ano) e Vista Pro Mar (2014) – o capixaba retorna a Curitiba para um show que, ao que tudo indica, será memorável.
Fazendo uma fusão entre elementos do indie, da música eletrônica, e mais recentemente, da bossa nova e do chillwave, SILVA rompe estereótipos na música nacional apostando na universalização de seu som.
Cada vez mais entregue à própria musicalidade e confortável em cima do palco, os shows de SILVA são um espetáculo a parte, unindo o envolvimento do público, um músico afiado e afinado e a necessidade do próprio artista em viver aquela experiência.
Mais ousado e maduro, ciente de suas possibilidades enquanto artista, SILVA também rompeu barreiras geográficas. Vista Pro Mar foi composto nos Estados Unidos e gravado em Portugal; se apresentou na edição lusitana do programa X-Factor; tocou no Japão e no festival South by Southwest (SXSW), em Austin, Estados Unidos.
Para ele, há espaço no mundo internacional da música para artistas brasileiros, contudo, o que o público não quer ver são reproduções do que nosso país já apresentou, mas sim um Brasil que surpreenda.
Por email, SILVA falou um pouco sobre sua carreira, sua relação com o público, as razões de gravar fora do país, a experiência de gravar com Fernanda Takai (Pato Fu) e muito mais. O papo na íntegra você confere abaixo.
O surgimento da internet e da pirataria digital prejudicou a indústria fonográfica, mas ao mesmo tempo permitiu que artistas ganhassem espaço nas mídias e chegassem diretamente ao público, construindo desta forma suas carreiras e um laço muito forte com seus fãs. Como é tua relação no ambiente digital e o quanto ela foi e é determinante na divulgação do teu trabalho?
Eu procuro ter uma relação próxima com as pessoas que curtem o meu trabalho. Há pouco tempo eu descobri que tinha um fã clube e hoje já conheço vários deles, já sei os nomes, de onde são, é uma coisa muito divertida e imprescindível para qualquer artista dessa geração. Não tem mais como separar o digital do “mundo real”, é tudo uma coisa só.
Em Claridão fomos apresentados a um jovem SILVA melancólico, fazendo indie pop com pitadas de música eletrônica. Em Vista Pro Mar você retornou mais doce, mais esperançoso e com arranjos mais sofisticados. Há também um novo conjunto de referências, como a bossa nova em “Ainda” ou o chillwave em “Universo”. O que você sente que mudou no seu trabalho nos dois anos que separam um disco do outro? Um ano após o lançamento de Vista Pro Mar, quem é o SILVA agora?
Eu me permito mudar sempre e isso é importante pra mim. Acho que seria tedioso fazer sempre a mesma coisa. Em Claridão eu estava numa fase difícil, com 23 anos e tudo acontecendo muito rápido e aí o disco acaba trazendo um pouco dessa angústia. Tenho muito carinho por aquela fase. Em Vista Pro Mar eu já estava mais acostumado com a rotina do trabalho e já havia tocado em muitos lugares do Brasil, em Portugal e quis fazer um disco leve com um mensagem mais positiva. Hoje, depois de um ano, já mudei bastante. O próximo SILVA eu apresento no disco seguinte.
Talvez um dos passos mais difíceis para um artista seja a transição de independente para o mainstream. Como foi para você este momento? Fazer parte da trilha da novela Além do Horizonte (Rede Globo) teve grande impacto no seu reconhecimento? Chegou a sentir-se pressionado com a ansiedade de público e crítica pelo lançamento de Vista Pro Mar?
Eu tento não me encher dessas questões porque você acaba se afastando da sua função original, que é fazer música e comunicar com as pessoas, mas é difícil não se envolver. Não sou um cara de preconceitos e curto muitas coisas do mainstream, só não consigo entender muito bem a fórmula brasileira de comunicação com o grande público. É um pouco confuso.
O início da composição de Vista Pro Mar ocorreu na Flórida. Já o processo de gravação foi feito em Portugal. Por que a escolha por gravar fora do Brasil? O quanto essa atividade global influencia sua carreira? E sua participação na edição portuguesa do X-Factor, como aconteceu?
Acho que além do gosto é uma questão de posicionamento. Eu não me vejo apenas como um músico brasileiro, me vejo como um músico. Gosto muito de Tom Jobim mas também gosto de Chet Baker, Stevie Wonder e Ryuichi Sakamoto. Nunca gostei dessa ideia folclórica de colocar o brasileiro sempre com seu pandeiro e seu cavaquinho. O mundo está globalizado e eu gosto de ver o que tem de bom por aí. Bem, o convite para a participação no X-Factor veio depois que minha música “A Visita” virou tema de uma novela portuguesa. Foi bem divertido.
Recentemente MoMo, Wado e Cícero se juntaram a alguns artistas portugueses e formaram O Clube. A Banda do Mar mudou-se para Portugal. Seu disco foi gravado em terras lusitanas e chegou a participar do Rock in Rio Lisboa. Você sente que há um movimento maior de aceitação da música brasileira por lá? Você tem planos de fazer uma turnê europeia?
Os portugueses são grandes consumidores da cultura brasileira e acho isso muito interessante. Temos um humor e uma produção completamente diferentes e deve ser por isso que o interesse surge. Minhas músicas tocam nas rádios do país inteiro, coisa que aqui já é mais difícil (a gente sabe da cultura dos jabás que rola no Brasil). Tenho planos de uma turnê europeia sim, alguma hora vai rolar.
Em março você fez quatro apresentações no SXSW. Como foi a receptividade do público norte-americano? E sua passagem por Tóquio? O idioma ainda é uma barreira para artistas nacionais despontarem no mercado internacional?
O SXSW é demais. É um momento em que as pessoas estão curiosas para ouvirem coisas novas e achei que a recepção foi muito boa. Minha ida a Tóquio também foi demais e uma das melhores viagens que já fiz, não só pelo lugar, mas pelo evento da Red Bull Music Academy que foi incrível. Acho que o idioma não é a maior das barreiras, acho que é o tipo de produção ainda focado num saudosismo muito forte. As pessoas lá fora já conhecem música brasileira e percebi que eles não querem ver cópias de Caetano, Chico e outros mestres já conhecidos. Querem um Brasil que surpreenda. Esse é o desafio.
Você seguiu o exemplo de artistas como Marcelo D2 e escolheu a África, mais precisamente Angola, para gravar o vídeo de “Volta”. Como foi essa experiência? Por que escolheu Luanda como locação?
Foi por uma questão musical. Quando compus “Volta” eu estava ouvindo muita música africana e acabei influenciado por ela. “Volta” é praticamente um Kuduro e por isso escolhi Angola, que é o berço desse gênero. A experiência foi incrível e sem dúvida a viagem mais divertida da minha vida. As festas, as pessoas, a auto-estima maravilhosa do angolano. Eu tentei captar tudo isso no videoclipe e no documentário (assista abaixo).
[embedyt]http://www.youtube.com/watch?v=4Cw0tpEinck[/embedyt]
Você sempre parece ficar muito confortável no palco, mesmo sendo um tanto tímido. O Lúcio por trás do SILVA transparece hoje um artista mais maduro, e há muita sinergia entre o você e o público, muita cumplicidade. Durante suas apresentações é como se no show as pessoas ali fossem transportadas para um universo paralelo. Como você sente essa dinâmica público/artista?
Eu nunca quis fazer aulas de teatro para vencer a timidez. Sempre soube que essa conquista viria com o tempo. Acho que assim fica tudo mais natural e menos caricato. Eu dou muito valor às pessoas que acompanham o meu trabalho e acredito que isso me ajuda a continuar a fazer o que eu faço. Sempre ouço no final dos shows coisas do tipo “obrigado por hoje, tuas músicas me fizeram muito bem” e acho que isso é uma das melhores recompensas. Se você faz com carinho, você vai receber isso de volta.
Na correria da turnê, você consegue arranjar tempo para ouvir música, ir a shows? O que toca no som do Lúcio hoje?
Eu não vejo tantos shows como eu gostaria, mas estou sempre ouvindo música. Ultimamente tenho escutado muito R&B, mas isso varia muito de acordo com meu humor. Ah, essa semana eu ouvi Outkast muitas vezes.
Em 2012 você deu uma entrevista para a Trip, na qual disse que nunca havia tocado em Vitória. A que você credita este fato? Considera que as cenas locais no Brasil não valorizam seus artistas? Existem outros SILVA’s escondidos em Vitória?
É aquela coisa de “santo da casa não faz milagre”. Algumas cenas no Brasil valorizam muito seus artistas, como Recife e Porto Alegre por exemplo (até demais talvez). Mas acho que as coisas estão mudando por aqui. Já toquei umas quatro vezes em Vitória depois dessa entrevista e já consigo ver um público crescente. Lá eu tenho um amigo compositor que é muito talentoso, só não posso falar muito ainda porque nem nome artístico ele tem. Mas tenho certeza que no dia que ele lançar vai ser algo que as pessoas vão querer ouvir. É um cara com a cabeça no futuro.
E a experiência de gravar com a Fernanda Takai? Como aconteceu o convite?
A gente já se falava por e-mail e eu sempre fui muito fã da Fernanda. Quando fiz a música “Okinawa”, imaginei que ficaria perfeita na voz dela e fui atrás disso. Um dia fui abrir o show da Lana Del Rey em Belo Horizonte e levei a versão demo dessa música para mostrar à Takai. Ela gostou e topou gravar. Foi um presente tê-la no disco e poder ser amigo dela hoje.
Para finalizar, gostaria de deixar um recado para os fãs que vão comparecer no show de Curitiba no próximo dia 30?
Curitiba, dia 30 tem Vista Pro Mar e eu já estou ansioso! Até daqui a pouco!
Serviço
SILVA em Curitiba (evento no Facebook)
Music Hall: Rua Engenheiros Rebouças, 1645 – Rebouças, Curitiba/PR.
Horário: Abertura da casa às 22h.
Ingressos: R$ 40,00 (meia)
Informações: (41) 3315-0808
Ingressos: Compras on-line pelo site da Disk Ingressos e em suas lojas nos Shoppings Palladium, Mueller e Estação.