Há uma complexidade e uma profundidade no texto de Grace and Frankie, mas isso fica escondido na maioria dos episódios. Por vezes, sentimos uma melancolia ao acompanhar a vida daquelas personagens, especialmente quando acompanhamos alguns enredos mais pesados. Mas, na maior parte do tempo, nos sentimos como grandes amigos. A série, aliás, acalenta o coração. A velhice não precisa ser triste e depressiva. Numa análise mais profunda, Grace and Frankie fala sobre o tempo e o tanto que nos falta.
Analisando mais friamente, contudo, também podemos perceber que a série vem se repetindo desde sua estreia, em 2015. Poucas coisas mudam entre uma temporada e outra. O grande trunfo, entretanto, é que, mesmo repetitiva, seguimos pedindo mais, e isso se deve mais ao talento de Jane Fonda e Lily Tomlin do que propriamente pelo roteiro.
A quinta temporada faz exatamente o que as outras já fizeram, sem tirar nem por. A crise de Grace (Fonda) e Frankie (Tomlin), que no quarto ano chegaram a se mudar para um retiro de idosos, logo é resolvida nos dois primeiros episódios, quando as duas conseguem recuperar a casa da praia, vendida pelos filhos, e voltam a ser independentes.
A partir daí, a dupla entra na velha dinâmica de discordar sobre tudo, brigar feio, pedir desculpas, estreitar os laços e por aí vai. Por outro lado, a série começa a refletir mais sobre o tempo. Podemos perceber as duas protagonistas mais reflexivas sobre como estão vivendo e a certeza da finitude (“Sorte que eu não vou viver mais 30 anos”, diz Grace em determinado episódio).
O grande trunfo, entretanto, é que mesmo repetitiva, seguimos pedindo mais.
Neste ano, a série traz alguns episódios inspirados, especialmente para Grace. A personagem ganha um enredo um tanto quanto mais complexo, como quando volta para sua empresa, a Say Grace, para evitar a falência da companhia, mas acaba incorporando a velha Grace cruel de anos atrás. O último episódio, aliás, traz um panorama do que seria a vida de Grace sem Frankie em sua vida (e vice-versa). O resultado é hilário e traz Jane Fonda em sua melhor forma.
Já Frankie ganha contornos mais sérios ao perceber que Grace jamais considera suas ideias, sempre julgando seu estilo de vida. Ao se sentir privilegiada demais naquela vida burguesa, Frankie decide voltar às raízes e começa a viver de maneira mais simples, o que garante episódios bastante divertidos.
Saul (Sam Waterston) e Robert (Martin Sheen) também seguem a mesma dinâmica de sempre. Robert continua investindo seu tempo em teatro e musicais, enquanto entra em uma crise de idade ao se comparar com atores mais novos. Saul decide doar menos seu tempo para os outros e pensa mais em si. Não mais cozinha todos os dias para Robert, larga de vez a advocacia e decide adotar um cachorro.
Os filhos também ainda ganham historinhas que não chegam a empolgar, com exceção de Briana (June Diane Raphael), que está mais afiada e complexa do que nunca. Ao mesmo tempo em que destila comentários maldosos (e hilários), a personagem ganha contornos mais humanos, o que dá espaço para a atriz brilhar em pequenos olhares e gestos cômicos. Arrisco a dizer, aliás, que a personagem é uma das poucas que de fato faz a gente rir.
Ao trazer atores veteranos para os holofotes enquanto os mais novos servem apenas como escada, Grace and Frankie cumpre um papel importante para a TV. Brincando com temas que dariam um ótimo drama, a série nos dá um fiozinho de esperança de que o futuro não precisa ser tão tenebroso assim, sentimento não muito fácil de extrair nos dias de hoje, especialmente em um programa de TV. Grace and Frankie, então, casa diretamente com uma frase dita há anos por Maria Bethânia: envelhecer é privilégio.