Recentemente, enquanto passeava pela Netflix, descobri por acaso que ela possui uma quantidade surpreendente de séries turcas (até agora, consegui contar sete delas escondidas por aí). Não sou descendente de turcos, nunca fui pra Turquia e não sei falar uma única palavra de turco; sendo assim, assistir a séries turcas me soou algo tão aleatório que não consegui resistir à ideia. Então vamos lá, explorar esse mundo que nunca soube existir – ou, pelo menos, com o qual nunca me importei.
Resolvi começar pela mais recente delas, BÖRÜ – Esquadrão Lobo. Por quê? Porque enquanto pesquisava sobre ela, li um monte de críticas rasas dando notas 10 ou 0 pra série. Li também que isso é uma prática um tanto comum quando se trata de filmes e séries da Turquia. E, pela minha experiência lendo críticas de produções brasileiras como É Fada! e O Mecanismo, sem falar na polêmica envolvendo a nota no IMDb de Nada a Perder, percebe-se que esse é um ponto que Brasil e Turquia têm em comum. Portanto, paradoxalmente, comecei a assistir a BÖRÜ com expectativas ao mesmo tempo muito altas e muito baixas. Eu poderia ficar o dia inteiro aqui explicando como isso é possível, então vamos direto ao ponto.
Segunda série turca original da Netflix (a primeira aparentemente tendo sido O Último Guardião), BÖRÜ acompanha as ações do (supostamente não tão) fictício esquadrão BÖRÜ, uma unidade dentro do Departamento de Operações Especiais (PÖH) da polícia turca, que opera em várias missões de alto risco por todo o território do país. Começando em 2014, a série mostra como o esquadrão se envolve direta ou indiretamente em eventos importantes da história turca recente – principalmente aqueles envolvendo a segurança nacional -, terminando bem no começo da tentativa de golpe de estado de 2016. Aparentemente há ainda um filme que continua a história exatamente a partir do momento em que a série acaba, mas como este não está disponível na Netflix e foi lançado bem recentemente nos cinemas turcos, encontrá-lo pra assistir com legendas no momento é uma tarefa praticamente impossível.
De qualquer forma, conseguiu me convencer a assistir a outras produções turcas disponíveis na Netflix. E nesse sentido, apesar de todas as suas falhas, não me decepcionou.
Por ter pouco contato com a cultura turca, com certeza há muitos simbolismos cujas intenções não tive capacidade de entender (embora alguns felizmente vêm com explicações por parte dos diálogos), e admito que a legenda me fez sentir falta de um maior conhecimento da língua original. Mas de um jeito ou de outro, uma coisa fica óbvia logo no primeiro episódio: BÖRÜ é uma série extremamente patriótica, o que leva a algumas mensagens um tanto questionáveis.
Compreensível, afinal qualquer série com uma temática política produzida em um país com uma situação política “inusitada” estará sujeita a ter sua mensagem questionada (a exemplo da israelense Fauda e da colombiana Distrito Selvagem), mas confesso que para um brasileiro, o nacionalismo exacerbado de BÖRÜ e a forma como mistura eventos reais da história turca com propaganda descarada pode soar um tanto brega, e não necessariamente cair no gosto de todo mundo. É sempre bom respeitar outras visões de mundo e entender de onde elas vêm, mas, pra mim, fica difícil quando um episódio mostra um espião sendo torturado puramente por vingança e espera que você continue torcendo pelos mocinhos.
Mas política à parte, como uma série de ação e drama, como é que BÖRÜ se sai? Posso dizer isso: não é medíocre, nem entediante. Tem uma boa qualidade… Mas não é tão boa assim. Mediana no geral, com coisas que poderiam ter sido melhoradas em termos de produção e direção.
Pontos positivos: a forma como a história aos poucos se desenrola de um episódio para o outro, atiçando a curiosidade do espectador até ele ficar obcecado com ela, sem se enrolar em episódios demais – seis episódios com sete horas e meia no total, é tudo que a série precisa. Os personagens também têm um bom carisma, e o companheirismo deles é tão forte que o espectador também começa a se sentir como parte do time, e sente pena deles toda vez que um amigo se fere ou é perdido. As cenas de ação também são bem feitas, no uso que fazem de ângulos de câmera, filtros de cor e edição, em um nível de produção digno da Netflix.
Pontos negativos: é hollywoodiana demais, basicamente uma cópia de histórias de ação americanas comuns. A escrita dos diálogos também não é do melhor nível, cheia de clichês, e alguns dos atores coadjuvantes acabam em certos momentos atuando de jeitos estranhos. Até mesmo nas cenas de ação, os inimigos que o esquadrão enfrenta possuem tão pouco senso tático que mais parecem saídos de um jogo de tiro ruim.
Conclusão final? Bem, é a melhor série turca a que já assisti. Até agora foi a única, mas isso é um detalhe. Pelas referências que faz à história recente turca, pode ser visto como um daqueles casos nos quais a lição de casa é mais interessante do que a aula. E de qualquer forma, conseguiu me convencer a assistir a outras produções turcas disponíveis na Netflix. E nesse sentido, apesar de todas as suas falhas, não me decepcionou.