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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

O inferno é agora

porYuri Al'Hanati
11 de fevereiro de 2019
em Yuri Al'Hanati
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O inferno é agora, crônica de Yuri Al'Hanati

Imagem: Inguna Z./Reprodução.

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Dizem por aí que um dos sinais indeléveis do tempo e sua marcha é o gradual deslocamento de identificação com os personagens dos filmes de terror. Deixa-se de se ligar emocionalmente aos adolescentes, assustados pelo assassino mascarado que vai dando cabo de todos, um a um, em meio a uma inconsequente festa de arromba em um casarão qualquer, para vazar uma necessidade urgente de dar razão ao mascarado da faca, para quem festas luxuriantes como aquela são apenas bons pretextos para matar. O que costuma ser celebrado por jovenzinhos imaturos como uma rabugice simpática inerente à vida adulta é na verdade um descompasso com o motor do tempo, uma súbita tomada de consciência para o fato de que a vida continua e está te deixando pelo meio do caminho em seus gostos retrógrados, em seus valores ultrapassados, em sua misantropia crescente e, ao fim e ao cabo, em seus preconceitos latentes, ainda por serem revelados ao mundo, no ocaso.

Dizem por aí que um dos sinais indeléveis do tempo e sua marcha é o gradual deslocamento de identificação com os personagens dos filmes de terror.

De certa maneira, é poético. A vida em sociedade trabalha de tal modo a acostumar o espírito à ideia da morte. A não pertencença se torna acachapante de tal modo que é inevitável perceber já não ser mais bem-vindo neste planeta. Coleciona-se perdas, frustrações irreparáveis, os sentidos tornam-se mais amortecidos e a noção de finitude freia qualquer esperança inadequada que se possa nutrir a essas horas. Tudo parece irritante: esses adolescentes bobocas com seus canudinhos de alumínio, o excesso de cores nas roupas, os carros que se tornam menores e menos elegantes, os cães – meu deus, e os cães, que de repente estão tomados de uma arrogância que jamais imaginou-se que existiria, malditos novos aplicativos de redes sociais, toda uma nova interface para se familiarizar, as novas bandas parecem pastiches menos competentes de outras, mais antigas. O inferno é agora.

Erasmo de Roterdã, em seu Elogio da Loucura, dizia que os velhos e as crianças se aproximavam afetivamente por guardarem, cada uma a sua maneira, a loucura que une as almas. Pois bem, grita-se loucura a qualquer um mais ou menos inadequado para a vida em comum, isto é sabido. De outra forma, que fariam os outros com todo esse entusiasmo? Às crianças, ao menos, é dado o veneno da condescendência, certos de que o ajuste virá. Aos velhos, por outro lado…

Ao mesmo tempo, não me soa tão apelativa a pobreza de espírito das pessoas mais velhas. À já mencionada latência de preconceitos horríveis, soma-se o humor chulo, a suscetibilidade às fake news, o tenebroso gosto por emojis de mãozinha (dos quais as palmas, os joinhas e o hi-five que por vezes é disseminado como um gesto de comunhão com o Criador são os meus mais mortais inimigos), as visões políticas obtusas e outras tosquices do dia a dia. A essa altura do campeonato, me sinto mais uma vez no limbo da adolescência, perdido pelo gramado do sítio entre as crianças que correm e os adultos que bebem. Não tenho uma turma, não gostaria de ter. Que isso seja preservado, amém.

Tags: AdolescênciacriançaCrônicaemoji de mãozinhaerasmo de roterdãfilme de terrorInfernorabugicetempovelhice

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