Carlos, meu pai, me ensinou que eu precisava bater de volta caso alguém me batesse.
Zeca, meu tio-avô, me ensinou que qualquer ferida podia ser lavada com cuspe.
Octávio, meu avô, que se o peixe não engoliu o anzol você pode jogar ele de volta.
Tavinho, meu tio, que os cachorros bravos podem te respeitar se você demonstrar confiança e se fizer um carinho atrás da orelha.
Carlos, meu pai, me ensinou que eu precisava bater de volta caso alguém me batesse.
Vítor, colega de classe, revelou a verdade sobre de onde vêm os bebês.
Paulinho, do laboratório, demonstrou que o álcool causa falta de equilíbrio – físico e emocional.
André, o químico, disse pra nunca chegar perto de Césio 137.
Daniel, o biólogo, foi no programa Em Nome do Amor, do Silvio Santos, fingindo que estava interessado na própria prima, só para ganhar uma viagem para Florianópolis. Ele mora lá até hoje.
Roberto, o auditor, me apresentou a Crumb, Shelton e Eisner.
Pelezinho, da outra vila, achava legal colocar uma lata de óleo de soja embaixo de um cabeção de nego.
Raphael, meu vizinho, me mostrou o funk do DJ Marlboro, Cashbox, Baile de Corredor.
André Renato, que tinha uma bicicleta de dezoito marchas, me fez ter gosto por demônios e monstros.
Valdir, da banca de jornal, disse pra eu pegar no meu pau quando a mulher do filme tirasse a roupa.
Geraldo, da padaria, testemunhou uma execução e teve que sumir do mapa com a família.
Tião, o guarda, era matador de aluguel até chegar por ali. Gostou do lugar e desistiu da missão.
Índio, que era cinco anos mais velho, estuprou meu vizinho e disse pra todo mundo que ele gostou.
Lucas, meu outro vizinho, ateou fogo no próprio corpo com uma garrafa de álcool.
Dibé mostrou que dá pra usar a palha seca da grama cortada para adubar mudas de árvores e acender fogueiras.
Gambá disse que eu era um merda e sempre seria um merda.
Bruno nunca me contou que o pai dele era o principal suspeito de ter sumido com Rubens Paiva.
Ângelo fez um nunchaku pra mim usando um cabo de vassoura serrado.
Ricardo, que só tinha dez anos, mas ninguém sabia disso, mandou uma carta anônima para o meu pai dizendo que eu, que tinha dez anos também, seria assassinado em breve.
Rodrigo me deu a minha primeira cerveja em lata, escondido do frigobar do pai.
Diogo me mostrou MV Bill e me ensinou a fazer sombreamento nos desenhos.
Beto me ensinou o que é a morte.