São Paulo, terra inóspita por fama e indigesta por natureza, sempre se gabou, pela boca de sua gente, de não pertencer a ninguém; “pero eso nunca fue cierto“. Até aí é bola “pradiante”, como dizia meu avô. Aqueles que habitam a terra da garoa sabem que a banda toca em desacordo com essa “certeza”. São Paulo pode até ser terra de ninguém, dependendo pra onde o olho aponta, mas aqueles que vivem a Paulicéia sabem que ela possui seus pequenos donos, mesmo que isso não esteja estabelecido e compreendido no ventre de sua natureza. Sempre foi assim, inclusive quando se fala em cultura. Principalmente quando chegamos ao tal “círculo do teatro”.
A introdução se faz necessária por conta dos diversos “toques” que recebi de amigos e colegas de profissão sobre uma suposta obsessão pessoal com o diretor e dramaturgo Roberto Alvim. Agora, por motivo de honra, é preciso uma pequena pausa nessa prosa virtual: desde sempre, leia-se desde que inaugurei essa trincheira cibernética, prometi não me render diante dos grandes nomes, de modo que sempre achei imprescindível apontar meu dedo, assumidamente podre, na cara de quem quer que seja. Assim o fiz, e continuarei fazendo, independente da face que encontro por trás do dedo tremulante. Bola “pradiante”, mais uma vez, como dizia Seu Jovail.
Pois bem, escrevi muito sobre Roberto Alvim, admito, mas voltar ao DCDP, ou melhor dizendo, ao tema, se faz necessário essa semana pelo simples fato de que o tal “injustiçado” arrancou a máscara de vítima e colocou, em praça pública, o abjeto capuz do carrasco. Se defender o justo e condenar os canalhas soa como repetição, paciência. Como Nelson Rodrigues, apesar de não gozar do mesmo prestígio e genialidade do cabra, rego regularmente meu jardim de obsessões, feito um preceito religioso, e não largo o osso que insisto em roer mesmo que lhe falte a carne que me falta. Dito isso vamos aos fatos.
Nos últimos dias, em carta aberta defendendo a livre expressão do pensamento e do fazer teatral, o grupo A Motosserra Perfumada denunciou o cancelamento da peça Res Publica 2023, que estrearia em Outubro no Complexo Cultural Funarte SP. Em nota combativa e inflamada, redigida em tom de alerta a todos os artista desse país em brasas, a trupe comenta a censura nascida de uma “decisão autocrática e sem qualquer fundamento” que decretou o cancelamento da temporada do espetáculo em questão. A ordem, que chegou travestida de filtro, termo que denuncia o “modus operandi” da gestão, partiu do Centro de Artes Cênicas, covil de Alvim e sua polícia ideológica. O horror!
Aos que pretendem compreender o incompreensível, é obrigatória a leitura do documento publicado pelo grupo (leia aqui). Fica evidente, como se isso já não fosse claro no discurso dessa gente, o aparelhamento cultural promovido por Roberto Alvim e sua gangue. E, pasmem, a coisa piora. Como se a proibição baseada em uma simples sinopse, repressão que faria os mais radicais agentes da ditadura de outrora corarem pelo abuso público, fosse algo natural, Alvim, munido de toda a sua intolerância e de sua falta de massa cinzenta, completou o pacote fascista com a demissão de Maria Ester Monteiro, que ousou discordar da “decisão” e adjetivar o “teatrólogo” preferido do capitão de censor. Novamente: o horror, o horror. O horror!
Como todo bom cão de guarda, Roberto Alvim ladra de acordo com a vontade da mão que o afaga e alimenta, o que é natural a um homem que hoje se mostra tão pequeno quanto inconsequente.
Através de malabarismo ideológicos, dignos de um garoto recém saído das fraldas, o atual “bambambam” da Funarte justifica seu crime dizendo que “o espetáculo não reúne as qualidades artísticas para ocupar o espaço pretendido”. Balela, meus amigos. Balela da pior espécie. É evidente que o ex-artista, hoje ancorado num cargo administrativo, cumpre à risca a cartilha de seus senhores, e futuros patrocinadores. Como todo bom cão de guarda, Roberto Alvim ladra de acordo com a vontade da mão que o afaga e alimenta, o que é natural a um homem que hoje se mostra tão pequeno quanto inconsequente. Replicar por aqui suas palavras seria duplamente absurdo, afinal além de respeitar esse espaço que preza pela legalidade e liberdade levamos em conta o fígado desgastado de todo brasileiro que não pode, e nem deve, gastar sua pouca bile com gente desse tipo. Pausa pra um breve engulho e um tremendo escarro; e, novamente: bola “pradiante”.
Não há novidade na postura totalitária e asquerosa de Roberto Alvim, como não é mais possível haver qualquer tipo de surpresa em relação às medidas criminosas do governo que ele representa. Essa gente, como já foi dito por aqui, retrata o que há de pior em matéria de política e de humanidade. São tão sujos quanto os crimes que perpetram e defendem, tão letais quanto as queimadas e censuras que promovem. Tão absurdos quanto a realidade que impõem ao povo brasileiro.
De novo, talvez haja, e isso espero, a certeza de que não existem concessões ou diálogos com agentes da censura promovida por Bolsonaro, dos quais Roberto Alvim é, indiscutivelmente, um dos frutos mais férteis e perigosos. Aos amigos que ainda acreditam numa redenção e insistem em me dizer que “persigo um homem confuso”, digo apenas uma coisa: Roberto Alvim, dentro da lata do lixo, com toda a sua história, hoje é apenas um imundo agente da censura vigente. Se toquem, admitam o óbvio e, como diria meu avô, deixem a bola seguir “pradiante”.